Capítulo dois
Capítulo dois
O TREINADOR MCCONAUGHTY FICOU DE PÉ NO QUADRO-NEGRO
falando com monotonia sem parar sobre algo, mas a minha mente estava distante
das complexidades da ciência.
Eu estava ocupada formulando razões para o porque Thur e
eu não deveríamos mais ser parceiros, fazendo uma lista delas atrás de um teste
velho. Assim que a aula acabasse, eu apresentaria meus argumentos para o
Treinador. Não coopera em tarefas, eu escrevi. Mostra pouco interesse
em trabalhos de equipe.
Mas eram as coisas que não estavam listadas que me
incomodavam. Eu achava a localização da marca de nascença de Thur estranha, e
eu fiquei assustada com o acidente na minha janela na noite passada. Eu não
suspeitei de imediato de Thur me espionando, mas eu não conseguia ignorar a
coincidência de que eu tinha quase certeza de ter visto alguém olhando na minha
janela só horas depois de tê-lo conhecido.
Ao pensar em Thur me espionando, eu alcancei o
compartimento dianteiro da minha mochila e chacoalhei duas pílulas de ferro de
uma garrafa, engolindo-as inteiro. Elas prenderam na minha garganta por um
instante, então acharam seu caminho na descida.
De canto de olho, eu capturei as sobrancelhas erguidas de
Thur.
Eu considerei explicar que eu era anêmica e que tinha que
tomar ferro algumas vezes por dia, especialmente quando estava estressada, mas
eu pensei melhor. A anemia não era uma questão de vida ou morte... contanto que
eu tomasse doses regulares de ferro. Eu não era paranóica ao ponto de pensar
que Thur queria me ferir, mas de algum modo, minha condição médica era uma
vulnerabilidade que parecia melhor guardada em segredo.
“Lua?”
O Treinador ficou de pé na frente da sala, sua mão
esticada em um gesto que mostrava que ele estava esperando por uma coisa –
minha resposta. Uma queimação vagarosa achou seu caminho até as minhas
bochechas.
“Você poderia repetir a pergunta?” eu perguntei.
A sala deu risinhos.
O Treinador disse, com uma leve irritação, “Quais as
qualidade que te atraem em um parceiro em potencial?”
“Parceiro em potencial?”
“Vamos lá, não temos a tarde toda.”
Eu conseguia ouvir a Vee rindo atrás de mim.
Minha garganta pareceu se contrair. “Você quer que eu
liste características de um...?”
“Parceiro em potencial, sim, isso seria prestativo.”
Sem querer fazê-lo, eu olhei de lado para Thur. Ele
estava relaxado em seu assento, quase preguiçosamente, estudando-me com
satisfação. Ele deu um relampejo de seu sorriso de pirata e balbuciou, Estamos
esperando.
Eu empilhei minhas mãos na mesa, esperando parecer mais
contida do que eu me sentia.
“Eu nunca pensei nisso antes.”
“Bem, pense rápido.”
“Você poderia chamar outra pessoa primeiro?”
O Treinador gesticulou impacientemente para a minha
esquerda. “É com você, Thur.”
Ao contrário de mim, thur falou com confiança. Ele se
posicionou para que seu corpo ficasse virado ligeiramente na direção do meu,
nossos joelhos a meros centímetros de distância.
“Inteligente. Atraente. Vulnerável.”
O Treinador estava ocupado listando os adjetivos no
quadro. “Vulnerável?” ele perguntou.
“Como assim?”
Vee falou.
“Isso tem alguma coisa a ver com a unidade que estamos
estudando? Porque eu não consigo achar nada sobre características desejadas em
um parceiro em lugar alguma do nosso texto.”
O Treinador parou de escrever tempo o bastante para olhar
sobre seu ombro. “Todos os animais no planeta atraem parceiros com o objetivo
de reproduzir. Sapos incham seus corpos. Gorilas machos batem em seus peitos.
Você já observou uma lagosta macho subir nas pontas dos pés e estalar suas
garras, exigindo a atenção da fêmea? Atração é o primeiro elemento de toda a
reprodução animal, incluindo os humanos. Por que não nos dá a sua lista, Srta.
Sky?”
Vee levantou cinco dedos.
“Lindo, rico, indulgente, ferozmente protetor, e só um
pouquinho perigoso.” Um dedo descia com cada descrição.
Thur riu baixinho.
“O problema com a atração humana é não saber se ela será
retornada.”
“Excelente argumento,” o Treinador disse.
“Humanos são vulneráveis,” Thur continuou, “porque são
capazes de se magoar.” Com isso o joelho de Thur bateu contra o meu. Eu me
afastei, não ousando me deixar perguntar o que ele queria dizer com o gesto.
O Treinador acenou.
“A complexidade da atração humana – e da reprodução – é
uma das características que nos diferenciam das outras espécies.”
Eu pensei ter ouvido Thur bufar com isso, mas foi um som
muito suave, e eu não consegui ter certeza.
O Treinador continuou,
“Desde o começo dos tempos as mulheres se atraíram por
parceiros com habilidades de sobrevivência fortes – como inteligência e proeza
física – porque homens com essas qualidades tem mais chances de trazer a janta
para casa no final do dia.” Ele levantou dois dedões no ar e sorriu. “Janta
equivale a sobrevivência, time.”
Ninguém riu.
“Igualmente,” ele continuou, “os homens são atraídos pela
beleza porque indica saúde e juventude – não há razão para se acasalar com uma
mulher doente que não estará por perto para criar as crianças.” O Treinador
empurrou seu óculos até a ponte do nariz e deu risada.
“Isso é tão sexista,” Vee protestou. “Me conte alguma
coisa que se relacione a uma mulher no século vinte e um.”
“Se você abordar a reprodução aos olhos da ciência,
Senhoria Sky, você verá que as crianças são a chave para a sobrevivência da
nossa espécie. E quanto mais filhos você tem, maior a sua contribuição para o
patrimônio genético.”
Eu praticamente escutei os olhos da Vee girando.
“Eu acho que finalmente estamos chegando perto do tópico
de hoje. Sexo.”
“Quase,” disse o Treinador, levantando um dedo. “Antes do
sexo vem a atração, mas depois da atração vem a linguagem corporal. Você tem
que comunicar ‘Estou interessado’ para um parceiro em potencial, só que não em
tantas palavras.”
O Treinador apontou para o meu lado.
“Certo, Thur. Digamos que você está numa festa. A sala
está cheia de meninas de todas as formas e tamanhos diferentes. Você vê loiras,
morenas, ruivas, algumas meninas de cabelo preto. Algumas são extrovertidas,
enquanto outras aparentam ser tímidas. Você achou uma garota que encaixe no seu
perfil – atraente, inteligente, e vulnerável. Como você a deixa saber que está
interessado?”
“Escolho-a. Falo com ela.”
“Bom. Agora para a pergunta principal – como você sabe se
ela está na sua ou se ela quer que você continue andando?”
“Eu a estudo,” Thur diz. “Eu descubro o que ela está
pensando e sentindo. Ela não vai vir de supetão e me contar, e é por isso que
eu tenho de prestar atenção. Ela vira seu corpo em direção ao meu? Ela olha nos
meus olhos, então
desvia o olhar? Ela morde seu lábio e brinca com seu
cabelo, como a Lua está fazendo agora?”
Risadas cresceram na sala. Eu derrubei minhas mãos em meu
colo.
“Ela está na minha,” disse Thur, batendo na minha perna
novamente. De todas as coisas, eu corei.
“Muito bem! Muito bem!” o Treinador disse, sua voz
carregada, sorrindo amplamente para a nossa atenção.
“As veias de sangue no rosto da Lua estão se alargando e
a pele dela está esquentando,” Thur disse. “Ela sabe que está sendo avaliada.
Ela gosta da atenção, mas ela não tem certeza de como lidar com isso.”
“Eu não estou corando.”
“Ela está nervosa,” Thur disse. “Ela está acariciando seu
braço para tirar a atenção de seu rosto para seu corpo, ou talvez para a pele
dela. Ambos são pontos vencedores fortes.”
Eu quase engasguei. Ele está brincando, eu disse a
mim mesma. Não, ele é insano. Eu não tenho experiência em lidar com
lunáticos, e aparecia. Eu sentia que eu passava a maior parte do nosso tempo
juntos encarando Thur, de boca aberta. Se eu tinha qualquer ilusão sobre ficar
no mesmo nível dele, eu ia ter que bolar uma nova abordagem.
Eu coloquei minhas mãos contra a mesa, levantei meu
queixo, e tentei parecer como se eu ainda possuísse alguma dignidade. “Isso é
ridículo.”
Esticando seu braço ao seu lado com uma dissimulação
exagerada, Thur o pendurou nas costas da minha cadeira. Eu tinha o estranho
pressentimento que isso era uma ameaça mirada diretamente a mim, e que ele
estava alheio e indiferente de como a turma recebia isso. Eles riam, mas ele
não parecia ouvir, segurando os meus olhos tão unicamente com os seus próprios
que eu quase acreditava que ele tinha esculpido um mundo pequeno e privado para
nós que ninguém mais podia alcançar.
Vulnerável, ele balbuciou.
Eu travei meus tornozelos ao redor das pernas da minha
cadeira e dei um solavanco para frente, sentindo o peso do braço dele cair das
costas do assento. Eu não era vulnerável.
“E aí está!” o Treinador disse. “Biologia em ação.”
“Podemos por favor falar sobre sexo agora?” perguntou
Vee.
“Amanhã. Leiam o capítulo sete e estejam prontos para uma
discussão imediata.”
O sinal tocou, e Thur rangeu sua cadeira.
“Isso foi divertido. Vamos fazer de novo algum dia.”
Antes que eu pudesse bolar algo mais incisivo do que não, obrigada, ele se
debruçou atrás de mim e desapareceu para fora da porta.
“Eu vou começar uma petição para despedirem o Treinador,”
Vee disse, vindo até a minha mesa. “O que foi a aula hoje? Foi um pornô aguado.
Ele praticamente colocou você e Thur em cima da sua mesa, na horizontal, sem
suas roupas, fazendo A Coisa –”
Eu a focalizei com um olhar que dizia, Parece que eu
quero uma repetição?
“Noossa,” Vee disse, recuando.
“Eu preciso falar com o Treinador. Te encontro no armário
em dez minutos.”
“Sem dúvida.”
Eu caminhei até a mesa do Treinador, onde ele estava
sentado encurvado sobre um livro de jogadas de basquete. Ao primeiro olhar,
todos os Xs e Os faziam parecer que ele estava jogando jogo da velha.
“Oi, Lua,” ele disse em olhar para cima. “O que posso
fazer por você?”
“Estou aqui para te dizer que seu novo mapa de assento e
plano de aula está me deixando desconfortável.”
O Treinador relaxou em sua cadeira e dobrou suas mãos
atrás de sua cabeça. “Eu gosto do mapa de assentos. Quase tanto quanto eu gosto
desse jogo de homem-a-homem em que estou trabalhando para o jogo de sábado.”
Eu coloco uma cópia do código de conduta e direitos
estudantis da escola bem no topo dele. “Por lei, nenhum estudante deveria se
sentir ameaçado nas propriedades escolares.”
“Você se sente ameaçada?”
“Eu me sinto desconfortável. E eu gostaria de propor uma
solução.” Quando o Treinador não me cortou, eu inspirei um sopro de confiança.
“Eu monitorarei qualquer estudante das suas aulas de biologia – se você me
sentar ao lado da Vee novamente.”
“Thur podia ser monitorado.”
Eu resisti cerrar meus dentes.
“Isso acaba com o propósito.”
“Você o viu hoje? Ele estava envolvido na discussão. Eu
não o ouvi dizer uma palavra o ano todo, mas eu coloco ele ao seu lado e –
bingo. A nota dele aqui vai melhorar.”
“E a da Vee vai cair.”
“Isso acontece quando você não pode olhar pro lado pra
pegar a resposta certa,” ele disse secamente.
“O problema da Vee é falta de dedicação. Eu monitorarei
ela.”
“Nada feito.” Olhando para seu relógio, ele
disse, “Estou atrasado para uma reunião. Acabamos aqui?”
Eu fiquei parada com a minha
boca entreaberta, espremendo o meu cérebro para cuspir mais um argumento. Mas
parecia que eu estava sem inspiração.
“Vamos dar ao mapa de assento
mais algumas semanas. Ah, e eu falei sério sobre monitorar Thur. Vou considerar
você dentro.” O Treinador não esperou pela minha resposta; ele assobiou a
música tema de Jeopardy e mergulhou para fora da porta.
Adaptada por: Millys
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