terça-feira, 30 de julho de 2013

Sussurro (Adaptada)

                  Capítulo dois

 Capítulo dois



O TREINADOR MCCONAUGHTY FICOU DE PÉ NO QUADRO-NEGRO falando com monotonia sem parar sobre algo, mas a minha mente estava distante das complexidades da ciência.
Eu estava ocupada formulando razões para o porque Thur e eu não deveríamos mais ser parceiros, fazendo uma lista delas atrás de um teste velho. Assim que a aula acabasse, eu apresentaria meus argumentos para o Treinador. Não coopera em tarefas, eu escrevi. Mostra pouco interesse em trabalhos de equipe.
Mas eram as coisas que não estavam listadas que me incomodavam. Eu achava a localização da marca de nascença de Thur estranha, e eu fiquei assustada com o acidente na minha janela na noite passada. Eu não suspeitei de imediato de Thur me espionando, mas eu não conseguia ignorar a coincidência de que eu tinha quase certeza de ter visto alguém olhando na minha janela só horas depois de tê-lo conhecido.
Ao pensar em Thur me espionando, eu alcancei o compartimento dianteiro da minha mochila e chacoalhei duas pílulas de ferro de uma garrafa, engolindo-as inteiro. Elas prenderam na minha garganta por um instante, então acharam seu caminho na descida.
De canto de olho, eu capturei as sobrancelhas erguidas de Thur.
Eu considerei explicar que eu era anêmica e que tinha que tomar ferro algumas vezes por dia, especialmente quando estava estressada, mas eu pensei melhor. A anemia não era uma questão de vida ou morte... contanto que eu tomasse doses regulares de ferro. Eu não era paranóica ao ponto de pensar que Thur queria me ferir, mas de algum modo, minha condição médica era uma vulnerabilidade que parecia melhor guardada em segredo.
“Lua?”
O Treinador ficou de pé na frente da sala, sua mão esticada em um gesto que mostrava que ele estava esperando por uma coisa – minha resposta. Uma queimação vagarosa achou seu caminho até as minhas bochechas.
“Você poderia repetir a pergunta?” eu perguntei.
A sala deu risinhos.
O Treinador disse, com uma leve irritação, “Quais as qualidade que te atraem em um parceiro em potencial?”
“Parceiro em potencial?”
“Vamos lá, não temos a tarde toda.”
Eu conseguia ouvir a Vee rindo atrás de mim.
Minha garganta pareceu se contrair. “Você quer que eu liste características de um...?”
“Parceiro em potencial, sim, isso seria prestativo.”
Sem querer fazê-lo, eu olhei de lado para Thur. Ele estava relaxado em seu assento, quase preguiçosamente, estudando-me com satisfação. Ele deu um relampejo de seu sorriso de pirata e balbuciou, Estamos esperando.
Eu empilhei minhas mãos na mesa, esperando parecer mais contida do que eu me sentia.
“Eu nunca pensei nisso antes.”
“Bem, pense rápido.”
“Você poderia chamar outra pessoa primeiro?”
O Treinador gesticulou impacientemente para a minha esquerda. “É com você, Thur.”
Ao contrário de mim, thur falou com confiança. Ele se posicionou para que seu corpo ficasse virado ligeiramente na direção do meu, nossos joelhos a meros centímetros de distância.
“Inteligente. Atraente. Vulnerável.”
O Treinador estava ocupado listando os adjetivos no quadro. “Vulnerável?” ele perguntou.
 “Como assim?”
Vee falou.
“Isso tem alguma coisa a ver com a unidade que estamos estudando? Porque eu não consigo achar nada sobre características desejadas em um parceiro em lugar alguma do nosso texto.”
O Treinador parou de escrever tempo o bastante para olhar sobre seu ombro. “Todos os animais no planeta atraem parceiros com o objetivo de reproduzir. Sapos incham seus corpos. Gorilas machos batem em seus peitos. Você já observou uma lagosta macho subir nas pontas dos pés e estalar suas garras, exigindo a atenção da fêmea? Atração é o primeiro elemento de toda a reprodução animal, incluindo os humanos. Por que não nos dá a sua lista, Srta. Sky?”
Vee levantou cinco dedos.
“Lindo, rico, indulgente, ferozmente protetor, e só um pouquinho perigoso.” Um dedo descia com cada descrição.
Thur riu baixinho.
“O problema com a atração humana é não saber se ela será retornada.”
“Excelente argumento,” o Treinador disse.
“Humanos são vulneráveis,” Thur continuou, “porque são capazes de se magoar.” Com isso o joelho de Thur bateu contra o meu. Eu me afastei, não ousando me deixar perguntar o que ele queria dizer com o gesto.
O Treinador acenou.
“A complexidade da atração humana – e da reprodução – é uma das características que nos diferenciam das outras espécies.”
Eu pensei ter ouvido Thur bufar com isso, mas foi um som muito suave, e eu não consegui ter certeza.
O Treinador continuou,
“Desde o começo dos tempos as mulheres se atraíram por parceiros com habilidades de sobrevivência fortes – como inteligência e proeza física – porque homens com essas qualidades tem mais chances de trazer a janta para casa no final do dia.” Ele levantou dois dedões no ar e sorriu. “Janta equivale a sobrevivência, time.”
Ninguém riu.
“Igualmente,” ele continuou, “os homens são atraídos pela beleza porque indica saúde e juventude – não há razão para se acasalar com uma mulher doente que não estará por perto para criar as crianças.” O Treinador empurrou seu óculos até a ponte do nariz e deu risada.
“Isso é tão sexista,” Vee protestou. “Me conte alguma coisa que se relacione a uma mulher no século vinte e um.”
“Se você abordar a reprodução aos olhos da ciência, Senhoria Sky, você verá que as crianças são a chave para a sobrevivência da nossa espécie. E quanto mais filhos você tem, maior a sua contribuição para o patrimônio genético.”
Eu praticamente escutei os olhos da Vee girando.
“Eu acho que finalmente estamos chegando perto do tópico de hoje. Sexo.”
“Quase,” disse o Treinador, levantando um dedo. “Antes do sexo vem a atração, mas depois da atração vem a linguagem corporal. Você tem que comunicar ‘Estou interessado’ para um parceiro em potencial, só que não em tantas palavras.”
O Treinador apontou para o meu lado.
“Certo, Thur. Digamos que você está numa festa. A sala está cheia de meninas de todas as formas e tamanhos diferentes. Você vê loiras, morenas, ruivas, algumas meninas de cabelo preto. Algumas são extrovertidas, enquanto outras aparentam ser tímidas. Você achou uma garota que encaixe no seu perfil – atraente, inteligente, e vulnerável. Como você a deixa saber que está interessado?”
“Escolho-a. Falo com ela.”
“Bom. Agora para a pergunta principal – como você sabe se ela está na sua ou se ela quer que você continue andando?”
“Eu a estudo,” Thur diz. “Eu descubro o que ela está pensando e sentindo. Ela não vai vir de supetão e me contar, e é por isso que eu tenho de prestar atenção. Ela vira seu corpo em direção ao meu? Ela olha nos meus olhos, então
desvia o olhar? Ela morde seu lábio e brinca com seu cabelo, como a Lua está fazendo agora?”
Risadas cresceram na sala. Eu derrubei minhas mãos em meu colo.
“Ela está na minha,” disse Thur, batendo na minha perna novamente. De todas as coisas, eu corei.
“Muito bem! Muito bem!” o Treinador disse, sua voz carregada, sorrindo amplamente para a nossa atenção.
“As veias de sangue no rosto da Lua estão se alargando e a pele dela está esquentando,” Thur disse. “Ela sabe que está sendo avaliada. Ela gosta da atenção, mas ela não tem certeza de como lidar com isso.”
“Eu não estou corando.”
“Ela está nervosa,” Thur disse. “Ela está acariciando seu braço para tirar a atenção de seu rosto para seu corpo, ou talvez para a pele dela. Ambos são pontos vencedores fortes.”
Eu quase engasguei. Ele está brincando, eu disse a mim mesma. Não, ele é insano. Eu não tenho experiência em lidar com lunáticos, e aparecia. Eu sentia que eu passava a maior parte do nosso tempo juntos encarando Thur, de boca aberta. Se eu tinha qualquer ilusão sobre ficar no mesmo nível dele, eu ia ter que bolar uma nova abordagem.
Eu coloquei minhas mãos contra a mesa, levantei meu queixo, e tentei parecer como se eu ainda possuísse alguma dignidade. “Isso é ridículo.”
Esticando seu braço ao seu lado com uma dissimulação exagerada, Thur o pendurou nas costas da minha cadeira. Eu tinha o estranho pressentimento que isso era uma ameaça mirada diretamente a mim, e que ele estava alheio e indiferente de como a turma recebia isso. Eles riam, mas ele não parecia ouvir, segurando os meus olhos tão unicamente com os seus próprios que eu quase acreditava que ele tinha esculpido um mundo pequeno e privado para nós que ninguém mais podia alcançar.
Vulnerável, ele balbuciou.
Eu travei meus tornozelos ao redor das pernas da minha cadeira e dei um solavanco para frente, sentindo o peso do braço dele cair das costas do assento. Eu não era vulnerável.
“E aí está!” o Treinador disse. “Biologia em ação.”
“Podemos por favor falar sobre sexo agora?” perguntou Vee.
“Amanhã. Leiam o capítulo sete e estejam prontos para uma discussão imediata.”
O sinal tocou, e Thur rangeu sua cadeira.
“Isso foi divertido. Vamos fazer de novo algum dia.” Antes que eu pudesse bolar algo mais incisivo do que não, obrigada, ele se debruçou atrás de mim e desapareceu para fora da porta.
“Eu vou começar uma petição para despedirem o Treinador,” Vee disse, vindo até a minha mesa. “O que foi a aula hoje? Foi um pornô aguado. Ele praticamente colocou você e Thur em cima da sua mesa, na horizontal, sem suas roupas, fazendo A Coisa –”
Eu a focalizei com um olhar que dizia, Parece que eu quero uma repetição?
“Noossa,” Vee disse, recuando.
“Eu preciso falar com o Treinador. Te encontro no armário em dez minutos.”
“Sem dúvida.”
Eu caminhei até a mesa do Treinador, onde ele estava sentado encurvado sobre um livro de jogadas de basquete. Ao primeiro olhar, todos os Xs e Os faziam parecer que ele estava jogando jogo da velha.
“Oi, Lua,” ele disse em olhar para cima. “O que posso fazer por você?”
“Estou aqui para te dizer que seu novo mapa de assento e plano de aula está me deixando desconfortável.”
O Treinador relaxou em sua cadeira e dobrou suas mãos atrás de sua cabeça. “Eu gosto do mapa de assentos. Quase tanto quanto eu gosto desse jogo de homem-a-homem em que estou trabalhando para o jogo de sábado.”
Eu coloco uma cópia do código de conduta e direitos estudantis da escola bem no topo dele. “Por lei, nenhum estudante deveria se sentir ameaçado nas propriedades escolares.”
“Você se sente ameaçada?”
“Eu me sinto desconfortável. E eu gostaria de propor uma solução.” Quando o Treinador não me cortou, eu inspirei um sopro de confiança. “Eu monitorarei qualquer estudante das suas aulas de biologia – se você me sentar ao lado da Vee novamente.”
“Thur podia ser monitorado.”
Eu resisti cerrar meus dentes.
“Isso acaba com o propósito.”
“Você o viu hoje? Ele estava envolvido na discussão. Eu não o ouvi dizer uma palavra o ano todo, mas eu coloco ele ao seu lado e – bingo. A nota dele aqui vai melhorar.”
“E a da Vee vai cair.”
“Isso acontece quando você não pode olhar pro lado pra pegar a resposta certa,” ele disse secamente.
“O problema da Vee é falta de dedicação. Eu monitorarei ela.”
 “Nada feito.” Olhando para seu relógio, ele disse, “Estou atrasado para uma reunião. Acabamos aqui?”
Eu fiquei parada com a minha boca entreaberta, espremendo o meu cérebro para cuspir mais um argumento. Mas parecia que eu estava sem inspiração.

“Vamos dar ao mapa de assento mais algumas semanas. Ah, e eu falei sério sobre monitorar Thur. Vou considerar você dentro.” O Treinador não esperou pela minha resposta; ele assobiou a música tema de Jeopardy e mergulhou para fora da porta. 

Original de: Becca Fitzpatrick


Adaptada por: Millys

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