
Capítulo 1 parte II
Arthur era todo músculos. Começara
trabalhando para o pai em plataformas de exploração de petróleo e parecia um explorador
Hoje em dia, trabalhava apenas no escritório, mas, quando estava com ânimo, ia
trabalhar na fazenda do pai, em Tulsá.
O velho Aguiar tinha sido jogador profissional de beisebol nos velhos
tempos e sabiamente investira o dinheiro ganho numa fazenda em Oklahoma e em
outra no Texas. Com aguçado senso comercial, começara a perfurar o solo e seu
filho, Arthur, o ajudara, àté decidir-se a cair fora do domínio do pai e abrir
seu próprio negócio de produção e venda de peças para sondas de petróleo.
Estava no ramo havia dez anos, com sucesso, mas seu pai o aborrecia por
nunca mencionar aos outros o que o filho fazia para viver. Na verdade, como
vingança, costumava dizer aos amigos que Arthur trabalhava como porteiro num
bar. Lua não entendia a confusão dos novos clientes quando percebiam de quem
Arthur era filho, pois Eugene era quase uma lenda no ramo e seus colegas
compravam peças de Arthur. Mas agora que ela também fazia parte da
brincadeira, era divertido e exasperador ao mesmo tempo.
O velho Aguiar nunca aprovara a independência do filho. Gostava de mandar
na vida de todos que estivessem ligados a sua própria vida. Quando visitava
Arthur, o que era freqüente, sempre tinha sugestões para Lua. A última havia
sido para que ela parasse de chamar o filho de "sr. Aguiar" e
começasse a usar roupas que dessem ênfase ao seu corpo escultural.
— Nunca chamará a atenção dele assim, você sabe — dissera o velho,
desaprovando a blusa branca fechada até a gola e a saia comprida.
— Sr. Aguiar, não quero chamar a atenção de seu filho — replicara ela. —
Ele não é meu tipo.
— Mas você serviria muito bem para ele — continuara o velho, como se Lua
nada tivesse dito, fitando-a com os olhos castanhos, iguais aos do filho. — Mantenha-o
longe dessas garotas de programa. Arthur vai morrer de alguma dessas doenças
horríveis — dissera o pai, em tom conspiratório. — Ele nem sabe onde essas
meninas andam!
A essa altura, Lua desculpara-se, indo até a toalete, onde tivera um
acesso de risada histérica. Queria tanto contar ao chefe o que o pai dissera
sobre ele, mas não sabia como abordar o assunto. ". .
O olhar curioso de Arthur por fim chamou sua atenção, tirando-a do
devaneio.
— Não fique aí parada, Lua, sente-se — murmurou Arthur, percebendo que a
secretária ò encarava. — Não sei o que deu em você ultimamente, mas a sua mente
está longe do trabalho.
— Como disse? — Lua tentava concentrar-se no que seu chefe dizia, sem
sucesso, de pé ao lado da poltrona.
— Sente-se!
Lua sentou-se. A autoridade na voz do chefe tinha o mesmo efeito com os
empregados homens. Arthur estava tão acostumado a dar ordens que não tinha
nenhuma inibição em fazê-lo nos restaurantes, nas festas de outras pessoas, em
qualquer lugar. Diziam que as anfitriãs suspiravam de alívio quando ele ia
embora de suas casas.
— Não me espanta que seu pai não o aprove — murmurou a secretária. — O
senhor è igualzinho a ele.
— Insultos são a minha especialidade, não a sua, menina
— lembrou-a Arthur, em tom divertido, inclinando-se para trás na poltrona
e examinando-a com atenção, fazendo a poltrona ranger. Arthur era quase um
peso pesado. Seus olhos fitavam-na. — Você não me parece muito animada esta
manhã. Algo errado?
— O senhor me repreendeu duas vezes antes de eu passar por esta porta e
nenhuma delas foi minha culpa.
— E daí? Eu brigo com você todas as manhãs, não brigo?
— Havia um lampejo bem-humorado em sua expressão. É inerente ao seu
cargo. Você chorou durante os dois primeiros dias quando entrou aqui.
— Estava morta de medo do senhor naqueles dois dias.
— Foi aí que jogou a agenda em mim — suspirou Arthur.
— Foi bom ter uma secretária que revidasse. Você durou bastante, Lua.
Talvez bastante demais, Lua pensou, com vontade de dizer. Mas resolveu
que era melhor ficar calada.
— Sem comentários? — estranhou Arthur, inclinando-se para a frente, num
gesto que sempre a pegava desprevenida. — Olhe aqui — disse em tom
conspiratório —, precisamos fazer algo a respeito de meu pai.
Lua piscou ante a súbita mudança de assunto.
— Nós precisamos?
— Sim, nós. Ele anda fazendo dos seus comentários de novo. O assunto
favorito agora é que eu esteja procurando uma esposa. Meu telefone tocou várias
vezes ontem com ofertas de moças solteiras e disponíveis em Tulsa.
Lua não pôde deixar de sorrir ante a expressão irritada do chefe. Podia
ver as solteiras pondo as manguinhas de fora.
— Sabe por que, não? — perguntou Lua, divertida. — O senhor mudou a
fechadura do seu apartamento e agora seu pai não tem chave para poder entrar.
— Meu Deus, não tenho nenhuma privacidade! Precisei fazer isso. Papai
estava esperando por mim no meu apartamento na sexta-feira passada —
defendeu-se Arthur, cheio de ódio na voz. — Levei Karol para casa comigo depois
do jantar e ali estava meu pai, afiando a faca na pedra-mármore. Olhou Karol de
cima a baixo e convidou-se para tomar um drinque e depois um café. Ficou
conosco até meia-noite. Tratou Karol muito mal, conversando praticamente
sozinho e contando como se fazia para castrar gado e outros assuntos que a enojaram
até que ela foi para casa.
— Posso entender — concordou Lua, tentando convencer-se de que não havia
nada de mais no fato de o chefe levar Karol para casa após o jantar. Mesmo
assim, o fato a irritava. A atitude dele ante suas conquistas femininas era
algo que mexia muito com Lua. — Uma vez ouvi seu pai contando a uma das suas
namoradas sobre o tratamento que o senhor estava fazendo para se curar de uma
daquelas doenças.
Os olhos castanhos se arregalaram pelo espanto.
— Foi com Vera, não foi? Não foi? Meu Deus… — Ele bateu com o punho
cerrado na mesa. — Foi por isso que ela me deixou tão apressada sem ao menos se
despedir! Aquela cobra venenosa do meu pai!
Vera, pelo que Lua se lembrava, tinha sido a namorada firme antes de
Karol.
— Isso é jeito de falar sobre seu pai, sr. Aguiar?
— Lua — começou Cabe —, quando meu pai esteve aqui, na semana passada, uma
das coisas mais gentis que ele disse sobre você foi que se vestia como se
tivesse recebido roupas do Exército da Salvação.
Lua sentiu-se tão insultada que esqueceu de protestar contra o uso do
apelido que Arthur lhe dera.
— Aquela cobra velha! — ela exclamou. Arthur levantou uma sobrancelha.
— Foi o que pensei ter dito. Tem alguma idéia?
— Nenhuma que não o leve para a cadeia. Por que seu pai anda interferindo
tanto na sua vida ultimamente?
Arthur suspirou fundo, passando uma das mãos pelo denso cabelo escuro.
— Papai acha que eu preciso de uma esposa. Então, está procurando uma
mulher para mim.
— Talvez ele esteja apenas aborrecido — murmurou Lua, pensativa. — Peça a
sua madrasta que o leve para um cruzeiro de volta ao mundo.
— Tenho o mínimo contato possível com minha madrasta — foi a resposta do
chefe.
— Desculpe. — Lua sabia que aquele era um assunto delicado para seu
chefe, mas não sabia o porquê. Arthur era um homem bastante reservado em alguns
campos.
— Seus pais ainda estão casados? — ele indagou,
— Sim senhor, fizeram trinta anos de casados em novembro.
— Não me chame de senhor! — Arthur exclamou em tom irado, quebrando um
lápis e, levantando-se, foi até a janela, enquanto Lua respirava fundo,
tentando recobrar-se do susto. — Não quero me casar. Não quero amar ninguém —
ele disse como que para si mesmo, olhando a cidade. — Você não deu nenhuma
informação sobre Karol a meu pai, deu? — perguntou Arthur de repente,
virando-se para a secretária.
A figura dele era intimidante.
— Não, sen… — Elisa pigarreou, lembrando-se de sua última ordem. — Não.
Ele é quem fica falando o tempo todo. Como de costume,
— O que ele disse?
Lua abafou uma risadinha.
— Que o senhor ia pegar uma daquelas doenças horríveis se ele não o
salvasse dessas garotas de programa. — E, inclinando-se para a frente,
continuou: — O senhor não sabe por onde elas andaram, entende?
Arthur caiu na risada. O som era gratificante, já que ele não era homem de
rir, normalmente. Fazia-o parecer mais jovem do que era e seus olhos brilhavam.
Lua não pôde deixar de sorrir para ele, pois o chefe ficava incrivelmente bonito
quando\ria.
— Então, esta é a opinião de meu pai. Talvez eu possa ter uma conversa com
ele sobre a vida moderna.
— Isso só funcionará se o senhor o amarrar e amordaçar antes. "'
— Papai anda fazendo confidencias a você, é isso? — Arthur comprimiu os
lábios estudando a secretária com uma atenção que estava se tornando cada vez
mais freqüente. — Quantos anos você tem, Lua?
— Vinte e três. — "E, se você não parar de me chamar de Lua, vou
embrulhá-lo em celofane e jogá-lo pela janela", acrescentou para si
mesma..
— Você mal tinha vinte e um quando começou a trabalhar aqui. Era nervosa e
muito tímida. De certo modo, você ainda é bem tímida.
— Gentileza sua notar— disse Lua, pouco à vontade. — Agora, com relação à
correspondência…
— Você não sai com rapazes — observou Arthur, como se ele soubesse do
fato.
Lua cruzou as longas e bem-feitas pernas de modo involuntário chamando a
atenção do chefe.
— Bem, não saio muito — respondeu ela, relutante.
— Por quê? — Os olhos castanhos mergulharam nos dela.
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