
CAPÍTULO 1 parte I
Lua Blanco olhou para a porta fechada do escritório com
todo seu ódio. Ele podia ficar sentado.lá até criar raízes, que Lua não se
incomodava. Ele nunca cometia erros, mas ela, sim. Se algo estava faltando,
tinha sido falha de Lua.
— Não vale a pena agüentar você só por causa
das prestações do carro — informou ela à porta fechada. — Sou uma excelente
secretária. Arrumo trabalho em qualquer lugar. Tudo o que tenho a fazer é
responder aos anúncios de jornal e irão chover propostas de emprego, sr. Arthur
"Sou o Melhor" Aguiar!
Tirou uma mecha de cabelo loiros dos olhos;
seus olhos cinzentos dardejavam em direção à porta do chefe. Seus dedos
elegantes brincavam com a caneta de laça, enquanto Lua pensava nas vantagens de
datilografar seu pedido de demissão para enfiar no nariz dó chefe.
Bem, ela não ia se desculpar. Não era sua
culpa se o chefe misturara as datas na agenda e fora para uma reunião de negócios
no restaurante errado e perdera um importante contrato. A secretária era
culpada por o chefe não saber ler? Era só o que faltava!
Era bem do feitio do chefe acusá-la de ter
procedido de forma deliberada. Acusava-a de tudo, de roubar suas canetas, de
beber seus licores, e, por que ainda ficava naquele emprego, Lua não sabia
dizer.
O salário era bom, claro. E o sr. Aguiar a
deixava sair por mais uma hora durante a semana para fazer compras. E também
ele não era tão ruim assim…
Por outro lado, o escritório estava sempre
cheio de vendedores falando uma estranha língua que parecia estar relacionada
a válvulas diversas e partes de equipamento pesado. Lua sabia como o petróleo
era retirado do subsolo, mas a natureza técnica de seu emprego ainda era grego
para ela. Sabia e como os geólogos se
pareciam e que o trabalho deles era de natureza confidencialíssima quando
procuravam por campos de petróleo. Sabia disso por causa de sua prima Jenny,
que morava com ela e trabalhava para o pai de Arthur Aguiar.
Eugene Aguiar, que parecia passar a vida
procurando novas formas de aborrecer o filho, um belo dia passara a hora de
almoço de Lua explicando-lhe os deveres de um geólogo, assim como várias
outras coisas que ela não queria saber sobre o ramo petrolífero. Eugene possuía
uma empresa para a qual Arthur não mais trabalhava. A deserção do pai do ramo
petrolífero era a razão principal do desentendimento entre os dois. Arthur
tivera certeza de que o pai ia falir na crise do petróleo, mas tal não
acontecera. O velho arrumara um jeito de ganhar dinheiro com os supergeólogos
que trabalhavam para ele e que puderam achar metais importantes para o governo.
Era um negócio que envolvia intrigas e espionagem, como sua prima Jenny lhe
contara em segredo. Encontrar.os metais dava mais dinheiro do que o petróleo.
Ela escrevia pedidos, tomava ditados,
datilografava cartas para o impaciente chefe, marcava reuniões e o agüentava regularmente.
E, quando os amigos ou parentes perguntavam o que a Aguiar Equipamentos fazia e
vendia, ela apenas sorria e se fingia de surda. Uma vez, com tremenda
cara-de-pau, dissera ao tio que Arthur Aguiar projetava e construía torpedos
de fótons. Infelizmente, o tio não era um fã de Jornada nas Estrelas, e fora
constrangedor quando ele se encontrara casualmente com Arthur e dissera-lhe que gostaria de ver os foguetes
interplanetários que a Aguiar produzia.
— Você não sabe ler, pelo amor de Deus? — era
Arthur, que interrompia o curso de seus pensamentos, gritando pelo interfone. —
Por que não me disse que eu tinha um almoço na Câmara de Comércio ao meio-dia?
É meio-dia e dez, o restaurante fica longe e eu ainda vou ter de fazer um
discurso!
Com um profundo suspiro, Lua apertou o botão
para responder:
— O almoço não é hoje, sr. Aguiar — disse
ela, com forçada polidez e paciência. — É amanhã. Está olhando no dia errado…
de novo — acrescentou baixinho. — Hoje é dez de abril, não onze.
Houve uma breve pausa.
— Quem virou a página? — indagou ele, a voz
mais mansa.
— Acho que fui eu — respondeu a secretária,
resignada. — Deus sabe que fui a responsável pelo furacão no litoral e tenho
certeza de que eu causo gengivite e queda de dentes.
— Cale-se e venha cá.
Pegando seu bloco e a caneta, Lua ajeitou a
blusa branca para entrar na sala do chefe. Não era alta mas tinha um belo corpo.
Seu farto cabelo loiro caía até a cintura quando o soltava. Ficava muito bem
com o cabelo solto, mas normalmente o prendia num coque ou rabo-de-cavalo e
não usava muita maquiagem. Seu rosto oval tinha feições delicadas. Lua não era
um modelo de beleza, mas era bem atraente e muitos chefes provavelmente a
teriam notado, mesmo que ela procurasse não chamar a atenção sobre si mesma.
Não valorizava sua figura no trabalho porque
sabia que Arthur era um mulherengo e não queria se arriscar a se apaixonar por
ele. Lua conhecia a própria vulnerabilidade, principalmente no dia em que
Arthur lhe dirigira um demorado olhar na época de Natal, quando se arrumara
para ir a uma festa com as amigas. Ele se inclinara para a secretária, como se
fosse beijá-la nos lábios, mudando de idéia repentinamente. Beijara-a no rosto,
murmurando um "Feliz Natal" e indo embora, deixando-a com a
respiração suspensa. Depois daquele dia, insistira em chamá-la de
"Lua" em vez de srta. Blanco, tratando-a como se fosse uma amiga. E
Lua fingira nada notar, percebendo que Arthur nunca lhe daria uma cantada, mas,
mesmo assim, por segurança nunca mais fora trabalhar muito arrumada e de cabelo
solto. Era mais seguro que o chefe a tratasse como amiga mesmo.
Seus pais, no Missouri, teriam aprovado sua
atitude. Arthur parecia preferir as mulheres morenas e sofisticadas. Era um play-boy,
o que não a atraía em absoluto.
De qualquer modo, Lua tinha apenas vinte e
três anos, contra os trinta e seis de seu chefe e ele parecia considerá-la uma
criança, pois naqueles dois anos em que haviam trabalhado juntos, nunca tentara
nada. Falava com ela como se fosse uma irmã mais nova, sobre esportes e às
vezes sobre mulheres. Não parecia notar como a secretária ouvia com atenção ou
como corava às vezes. Arthur parecia estar falando consigo mesmo.
Ultimamente estava saindo com uma morena
muito elegante e bonita de nome Karol Sartain. Andava cada vez mais impaciente.
No dia anterior, Lua notara que o chefe a olhava com uma expressão estranha,
que nunca tinha visto, Olhava-a como se de súbito quisesse que ela estivesse
na Sibéria, e Lua não conseguia entender por quê.
Era melhor mesmo que Arthur não gostasse
dela. Um homem tão experiente assim estava longe de ser o parceiro ideal para
uma garota solteira e reprimida que possuía um lagarto gigante como animal de
estimação.
Abrindo a porta do escritório do chefe, Lua
entrou. A presença dele sempre a deixava sem fôlego, principalmente porque
Arthur era bem bonitão. Era alto e musculoso, um homem grande com personalidade
agressiva. Arthur era um vencedor e isso se mostrava em sua expressão facial.
Seus olhos castanhos podiam derreter o aço e seus cabelos era pretos e
espessos. Seu rosto tinha duas cicatrizes perto do queixo, algo que o tornava
ainda mais másculo. As mulheres pareciam não conseguir resistir a ele. Podia
ser charmoso quando queria algo e, se não desse certo, ainda tinha seus punhos
de ferro. Não parecia ter medo de nada. Exceto de cobras. Lua nunca mencionara
que possuía um animal de estimação. Perguntava-se se o medo do chefe se
estendia a lagartos.
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