sábado, 13 de julho de 2013

Além da pureza - Momentos íntimos (Adaptada)

CAPÍTULO 1 parte I


Lua Blanco  olhou para a porta fechada do escritório com todo seu ódio. Ele podia ficar sentado.lá até criar raízes, que Lua não se incomodava. Ele nunca cometia erros, mas ela, sim. Se algo estava faltando, tinha sido falha de Lua.
— Não vale a pena agüentar você só por causa das presta­ções do carro — informou ela à porta fechada. — Sou uma excelente secretária. Arrumo trabalho em qualquer lugar. Tudo o que tenho a fazer é responder aos anúncios de jornal e irão chover propostas de emprego, sr. Arthur "Sou o Melhor" Aguiar!
Tirou uma mecha de cabelo loiros dos olhos; seus olhos cinzentos dardejavam em direção à porta do chefe. Seus dedos elegantes brincavam com a caneta de laça, enquanto Lua pensava nas vantagens de datilografar seu pedido de demis­são para enfiar no nariz dó chefe.
Bem, ela não ia se desculpar. Não era sua culpa se o chefe misturara as datas na agenda e fora para uma reunião de ne­gócios no restaurante errado e perdera um importante con­trato. A secretária era culpada por o chefe não saber ler? Era só o que faltava!
Era bem do feitio do chefe acusá-la de ter procedido de forma deliberada. Acusava-a de tudo, de roubar suas canetas, de beber seus licores, e, por que ainda ficava naquele emprego, Lua não sabia dizer.
O salário era bom, claro. E o sr. Aguiar a deixava sair por mais uma hora durante a semana para fazer compras. E tam­bém ele não era tão ruim assim…
Por outro lado, o escritório estava sempre cheio de vende­dores falando uma estranha língua que parecia estar relacio­nada a válvulas diversas e partes de equipamento pesado. Lua sabia como o petróleo era retirado do subsolo, mas a nature­za técnica de seu emprego ainda era grego para ela. Sabia e  como os geólogos se pareciam e que o trabalho deles era de na­tureza confidencialíssima quando procuravam por campos de petróleo. Sabia disso por causa de sua prima Jenny, que mo­rava com ela e trabalhava para o pai de Arthur Aguiar.
Eugene Aguiar, que parecia passar a vida procurando novas formas de aborrecer o filho, um belo dia passara a hora de almoço de Lua explicando-lhe os deveres de um geólogo, as­sim como várias outras coisas que ela não queria saber sobre o ramo petrolífero. Eugene possuía uma empresa para a qual Arthur não mais trabalhava. A deserção do pai do ramo petro­lífero era a razão principal do desentendimento entre os dois. Arthur tivera certeza de que o pai ia falir na crise do petróleo, mas tal não acontecera. O velho arrumara um jeito de ganhar dinheiro com os supergeólogos que trabalhavam para ele e que puderam achar metais importantes para o governo. Era um negócio que envolvia intrigas e espionagem, como sua prima Jenny lhe contara em segredo. Encontrar.os metais dava mais dinheiro do que o petróleo.
Ela escrevia pedidos, tomava ditados, datilografava cartas para o impaciente chefe, marcava reuniões e o agüentava re­gularmente. E, quando os amigos ou parentes perguntavam o que a Aguiar Equipamentos fazia e vendia, ela apenas sorria e se fingia de surda. Uma vez, com tremenda cara-de-pau, dis­sera ao tio que Arthur Aguiar projetava e construía torpedos de fótons. Infelizmente, o tio não era um fã de Jornada nas Es­trelas, e fora constrangedor quando ele se encontrara casual­mente com Arthur  e dissera-lhe que gostaria de ver os foguetes interplanetários que a Aguiar produzia.
— Você não sabe ler, pelo amor de Deus? — era Arthur, que interrompia o curso de seus pensamentos, gritando pelo interfone. — Por que não me disse que eu tinha um almoço na Câmara de Comércio ao meio-dia? É meio-dia e dez, o res­taurante fica longe e eu ainda vou ter de fazer um discurso!
Com um profundo suspiro, Lua apertou o botão para res­ponder:
— O almoço não é hoje, sr. Aguiar — disse ela, com força­da polidez e paciência. — É amanhã. Está olhando no dia er­rado… de novo — acrescentou baixinho. — Hoje é dez de abril, não onze.
Houve uma breve pausa.
— Quem virou a página? — indagou ele, a voz mais mansa.
— Acho que fui eu — respondeu a secretária, resignada. — Deus sabe que fui a responsável pelo furacão no litoral e tenho certeza de que eu causo gengivite e queda de dentes.
— Cale-se e venha cá.
Pegando seu bloco e a caneta, Lua ajeitou a blusa branca para entrar na sala do chefe. Não era alta mas tinha um belo corpo. Seu farto cabelo loiro caía até a cintura quando o soltava. Ficava muito bem com o ca­belo solto, mas normalmente o prendia num coque ou rabo-de-cavalo e não usava muita maquiagem. Seu rosto oval ti­nha feições delicadas. Lua não era um modelo de beleza, mas era bem atraente e muitos chefes provavelmente a teriam no­tado, mesmo que ela procurasse não chamar a atenção sobre si mesma.
Não valorizava sua figura no trabalho porque sabia que Arthur era um mulherengo e não queria se arriscar a se apaixonar por ele. Lua conhecia a própria vulnerabilidade, principalmente no dia em que Arthur lhe dirigira um demorado olhar na época de Natal, quando se arrumara para ir a uma festa com as ami­gas. Ele se inclinara para a secretária, como se fosse beijá-la nos lábios, mudando de idéia repentinamente. Beijara-a no ros­to, murmurando um "Feliz Natal" e indo embora, deixando-a com a respiração suspensa. Depois daquele dia, insistira em chamá-la de "Lua" em vez de srta. Blanco, tratando-a como se fosse uma amiga. E Lua fingira nada notar, percebendo que Arthur nunca lhe daria uma cantada, mas, mesmo assim, por segurança nunca mais fora trabalhar muito arrumada e de ca­belo solto. Era mais seguro que o chefe a tratasse como ami­ga mesmo.
Seus pais, no Missouri, teriam aprovado sua atitude. Arthur parecia preferir as mulheres morenas e sofisticadas. Era um play-boy, o que não a atraía em absoluto.
De qualquer modo, Lua tinha apenas vinte e três anos, con­tra os trinta e seis de seu chefe e ele parecia considerá-la uma criança, pois naqueles dois anos em que haviam trabalhado juntos, nunca tentara nada. Falava com ela como se fosse uma irmã mais nova, sobre esportes e às vezes sobre mulheres. Não parecia notar como a secretária ouvia com atenção ou como corava às vezes. Arthur parecia estar falando consigo mesmo.
Ultimamente estava saindo com uma morena muito elegante e bonita de nome Karol Sartain. Andava cada vez mais impa­ciente. No dia anterior, Lua notara que o chefe a olhava com uma expressão estranha, que nunca tinha visto, Olhava-a co­mo se de súbito quisesse que ela estivesse na Sibéria, e Lua não conseguia entender por quê.
Era melhor mesmo que Arthur não gostasse dela. Um homem tão experiente assim estava longe de ser o parceiro ideal para uma garota solteira e reprimida que possuía um lagarto gigante como animal de estimação.

Abrindo a porta do escritório do chefe, Lua entrou. A pre­sença dele sempre a deixava sem fôlego, principalmente por­que Arthur era bem bonitão. Era alto e musculoso, um homem grande com personalidade agressiva. Arthur era um vencedor e isso se mostrava em sua expressão facial. Seus olhos castanhos podiam derreter o aço e seus cabelos era pretos e espessos. Seu rosto tinha duas cicatrizes perto do queixo, algo que o torna­va ainda mais másculo. As mulheres pareciam não conseguir resistir a ele. Podia ser charmoso quando queria algo e, se não desse certo, ainda tinha seus punhos de ferro. Não parecia ter medo de nada. Exceto de cobras. Lua nunca mencionara que possuía um animal de estimação. Perguntava-se se o medo do chefe se estendia a lagartos.

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