Capítulo 2 parte final
— Não! Sr. Aguiar! Não deve fazer isso… — ela implorou — eu trabalho para
o senhor!
— Trabalha para mim — a voz masculina ecoou e Arthur olhou-a como se a
visse pela primeira vez. Sentia o corpo doendo de desejo, sentia necessidade de
aplacar aquele desejo. "Trabalho para o senhor." As palavras se
repetiam em sua mente, implacáveis, e via Lua, os olhos arregalados, à sua
frente. Lua!
— Meu Deus, que estou fazendo?!— perguntou a si mesmo, incrédulo,
afastando-se da secretária abruptamente e acendendo um cigarro. — Desculpe, Lua—
disse em tom seco, sentindo-se culpado; afinal, ela era apenas uma criança. —
Não acontecerá de novo.
E, ligando o carro, se afastaram da plataforma de exploração.
Lua tirou os olhos das feições perturbadas do chefe. Não conseguiria acreditar
em tudo o que acabara de acontecer se não fosse pelos lábios machucados pelo
toque de Arthur. Era por isso que as mulheres caíam aos pés dele. Arthur mal a
tocara, fazendo-a sentir as pernas bambas e a respiração entrecortada. Ainda
podia sentir o hálito quente e as coisas deliciosas e chocantes que ele
dissera. Quase gemera em protesto quando Arthur se afastara. Queria ter
sentido os lábios másculos sobre os seus, o calor dos braços fortes
envolvendo-a, o peito forte e musculoso contra seus seios. Pôs os próprios
braços em volta de si, como que para proteger-se dos pensamentos. Que havia de
errado com seu chefe? . Permaneceu calado durante o trajeto de volta, deixando
o som do rádio entre eles. Mas todo tempo Lua ficava se perguntando se Arthur
não teria agido de propósito, para mostrar-lhe o quão vulnerável ela era.
Talvez fosse uma vingança por ter sido chamado de mulherengo no dia
anterior. Talvez ele quisesse mostrar quanto Lua era vulnerável às técnicas de
um mulherengo. Quando entraram na garagem do prédio onde ficava o escritório,
Lua começou a sentir-se mal, certa de que tudo não passava de uma manobra para
humilhá-la.
No instante em que estacionaram o carro, Lua tentou abrir a porta, mas
sentiu o braço forte do chefe segurando o seu.
— Ainda não — disse Arthur, baixinho, os olhos mergulhados nos dela,
culpados. — Eu a magoei.
— E eu o chamei de mulherengo — Lua lembrou-o, baixando o olhar para o
peito forte e musculoso. — Foi por isso…? Para me dar uma lição?
— Não, não foi. Eu é que aprendi a lição, querida — retrucou Arthur,
suspirando. — Estou acostumado com mulheres sofisticadas e experientes que
aceitam tudo o que um homem faz. Nunca tive nenhuma experiência com mulheres
tímidas, virgens inocentes que fazem tudo parecer novo e excitante.
— E, vendo o rubor nas faces da secretária, sorriu. — Só para eu saber,
srta. Blanco, já beijou alguma vez de boca aberta?
Lua sentiu, as faces ficarem vermelhas como tomates.
— Não é da sua conta!
— Em outras palavras, nunca beijou — riu ele, baixinho. — Tudo bem,
menina, então aprenda.
— Não preciso de professor! —gritou Lua, tentando sair do carro.
— Ah, mas vai precisar, sim — replicou Arthur, em tom suave, o braço
segurando-a para impedi-la de sair dali. — Não sabe o que eu daria para ser seu
professor — acrescentou com os olhos cheios de malícia e de promessas. — Mas
seria desastroso para nós dois. Sou muito experiente e você é pura demais. O
máximo que eu podia oferecer-lhe são algumas boas horas numa cama e eu não a
insultaria com este tipo de proposta. Você precisa de um.bom e estável homem
que cuide bem de você e lhe dê filhos. Isso requer um tipo de segurança que eu
não posso dar a uma mulher. Não quero ser vulnerável, Lua.
— Ninguém está pedindo que seja! — ela replicou, furiosa.
— Você é vulnerável? — indagou Arthur. — Meu pai tinha razão? Você não tem
uma queda por mim?
— Não!
Nos olhos castanhos havia um brilho de autoconfiança.
— Então, por que não tentou me deter e nem brigou comigo? — perguntou num
tom suave.
Lua saiu do carro e entrou no prédio tão depressa que mal podia respirar
ao alcançar o escritório. A primeira coisa que planejava fazer era datilografar
seu pedido de demissão. Mas, ao abrir a porta, deu de cara com Eugene Aguiar, sentado numa cadeira, impaciente e parecendo
muito bravo.
— Que fez com meu filho? — inquiriu ele, desconfiado. Lua parou de súbito,
os cabelos revoltos pela corrida e os
lábios ainda vermelhos.
— Pensando bem — continuou o velho, olhando-a demoradamente, — o que meu
filho fez com você?
Arthur entrou no escritório em seguida, parecendo tão arrogante que Lua
sentiu vontade de atirar-lhe a máquina de escrever.
— Olá, papai — disse Arthur de modo casual. — Precisa de algo?
Eugene olhava fixamente o filho, procurando traços de batom, mas nada achando.
Arthur olhava o pai divertido.
— Nada de mais. Queria saber se você aparecerá na nossa festa de
aniversário amanhã. Nicky está esperando que você vá.
Nicky? Lua já tinha ouvido o nome umas duas vezes. Seria nome de homem ou
de mulher? Talvez de mulher, pensou, triste.
— Estarei ocupado amanhã à noite — Arthur apressou-se em dizer. — Vou
levar Karol ao balé.
— Então essa mulher vulgar é mais importante para você do que eu,
declarou, zangado. — E Cynthia? Ela vai ter de sofrer pelo resto da vida porque
eu tive a audácia de me casar de novo?
Arthur virou-se para o pai, com um brilho perigoso no olhar.
— Ela nunca será minha mãe e Nicky nunca será parte da minha família! Eu
amava minha mãe! Você nem esperou que ela estivesse enterrada para levar
Cynthia até o altar!
— É mentira e você sabe disso — Eugene retrucou em tom calmo. — Cynthia
trabalhou para mim enquanto sua mãe estava viva, mas foi só depois que ela
morreu que nos apaixonamos. Nicky foi uma deliciosa surpresa, não um acidente,
e eu não you me desculpar por ele
existir! Meu Deus, ele não está tirando nada de você! Nicky não herdará nada,
exceto uma parte das minhas propriedades. Cynthia e eu concordamos sobre isso
desde o início. Ela tem dinheiro suficiente para criar o filho, caso você
tenha esquecido.
— Não me esqueci de nada — Arthur respondeu em tom frio.
Eugene ia começar a falar, mas deu de ombros, desistindo.
— Você não morreria se passasse uma noite conosco, mesmo assim. Nicky
fica magoado por você ignorá-lo.
— Não lhe devo nada!
Enquanto Eugene saía do escritório, Arthur socou a mesa de Lua com o punho
cerrado, com toda a força, assustando-a.
— Tudo bem! — gritou ele, raivoso. — Maldição, eu irei ao aniversário.
Já perto do elevador, Eugene sorriu.
— Este é o meu menino. A propósito, porque não deixa a loira oxigenada em
casa e traz essa aqui com você? — perguntou ele, referindo-se a Lua. — Ela tem
um iguana. Nicky iria adorá-la.
Lua quase desmaiou.
— Como sabe sobre Norman?
Eugene sorriu.
— Pergunte a Jenny. Sua secretária parecia bastante alterada quando
entrou aqui. Pensei que talvez vocês…
— Acabamos de chegar dos campos de petróleo de Harry Deal — disse Arthur,
com um brilho malicioso no olhar. — Lua e Harry trocaram palavras ásperas.
— Espero que ela tenha levado a melhor. Harry é bastante irritante —
Eugene deu um suspiro desapontado. — Bem, até amanhã à noite — murmurou. —
Loira oxigenada, só Deus sabe quantos homens já…
— Vá embora! — exclamou, por fim.
Eugene não era bobo e sabia quando era hora de parar. Acenando para Lua,
foi embora.
Lua estava tentando ligar o computador, coisa que fazia todos os dias, mas
sem sucesso naquele momento. Estava muito embaraçada. Tinha sido uma manhã
muito movimentada.
Sentiu o cheiro de cigarro. Era o chefe, que se aproximara dela. Fumava e
a olhava com franca admiração masculina.
— Não tenho uma queda pelo senhor — disse Lua, tentando parecer calma.
Dando uma longa baforada, Arthur olhava-a com atenção.
— Sou treze anos mais velho que você. De um ponto de vista prático, você
nem tem como me comparar com outros. Sua vida é uma página em branco. Sei que
sou a última complicação de que você precisa na sua vida, menina. Portanto,
chega de aproximações como a que tivemos. Vamos trabalhar.
E, dizendo isto, entrou em sua sala com o costumeiro passo firme. Lua
devia sentir-se aliviada. Mas não estava. Era como o fim de algo que nem
começara. Frustrante.
Ligando por fim o computador, sentia o coração aos pulos.
Mas, afinal, se Arthur não queria complicações, por que a tocara daquele
modo, no carro? Por que dissera todas aquelas coisas? Franziu as sobrancelhas.
Arthur não podia resistir a uma brincadeira. Mas não ia deixar as coisas assim.
De agora em diante, estaria imune ao chefe. Ou pelo menos, faria com que ele
pensasse assim.
Perguntava-se quem era Nicky. Devia ser um parente, e por que havia de
gostar dela só porque tinha um iguana? Suspirou. A vida toda parecia ser uma
grande pergunta, ultimamente.
Ligou o editor de textos e se pôs a datilografar as cartas que Arthur
ditara.
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