sábado, 13 de julho de 2013

Além da pureza - Momentos íntimos (Adaptada)



Capítulo 1 parte final


Escolhendo as palavras com cuidado, Lua tentou respon­der. Nunca enveredara por aquele tipo de conversa pessoal an­tes e se perguntava por que o chefe trazia o assunto à baila agora. Era óbvio que Eugene tentava bancar o cupido.
— Não sou moderna o suficiente para a maioria dos ho­mens — foi a resposta clara e honesta.
Arthur examinou-a com atenção.
— Você diz moderna em relação à liberação sexual? Sentindo as faces corarem, Lua respondeu:
— Meus pais eram de meia-idade quando nasci e são pes­soas muito convencionais. Me  ensinaram que o amor deve sig­nificar algo mais do que apenas sexo. Mas eu descobri que, para a maioria cios homens, amor quer dizer um bom jantar seguido de uma sessão na cama. Ninguém quer levar tempo construindo uma relação, especialmente quando existem tan­tas mulheres que não querem um relacionamento mais sério. Portanto, desisti de sair para programas com finais desagra­dáveis e trouxe Norman para morar comigo.
Arthur franziu o cenho.
— Norman?
— Norman, meu iguana — explicou a secretária, orgulhosa. O chefe empalideceu, olhando-a horrorizado.
— Seu o quê?
— Meu iguana. É um bom animal de estimação — explicou Lua, na defensiva. — Eu o comprei quando era apenas um bebê.
— Um iguana! — Arthur olhou em volta do escritório como se esperasse que a secretária tivesse trazido.o animal para o escritório dentro da bolsa. — Meu Deus, ninguém tem um igua­na como animal de estimação! É uma cobra com pernas, pelo amor de Deus!
— Não é! Na verdade, ele parece um pequeno dragão chi­nês. É descendente dos dinossauros da antiguidade. É quieto, limpo e o senhor devia ver o efeito que ele tem nos vendedo­res! Norman mede noventa centímetros, apesar de ainda ser criança — murmurou Lua, sorrindo.
Nunca discutia coisas pessoais com o chefe e provavelmen­te ele nem soubesse que era prima de Jenny, que a avisara do emprego havia dois anos.
— Por que tem um réptil como animal de estimação? Está tentando criar seu próprio príncipe?
Lua suspirou, aborrecida.
— Isso só funciona com sapos. Tenho Norman como ani­mal de estimação, não o beijo. — Franziu o cenho. — Apesar de tê-lo beijado quando ele era pequenino…
— Meu Deus! — Arthur olhou-a admirado. — Por isso é que não sai com rapazes! Nenhum homem sai com uma mulher que anda por aí beijando iguanas!
— Não há perigo disso — suspirou Lua, lembrando-se do dia de Natal, em que seu chefe quase a beijara, mudando de idéia momentos depois.
Levantando-se e andando em volta da própria mesa, Arthur acabou por sentar-se de novo em sua cadeira.
— Agora eu entendo. Uma noite haverá um homem no seu apartamento e você chamará a televisão e a imprensa para ex­plicar como ele apareceu. Primeiro, escolheu seu iguana e o beijou, e de repente, puf! Aparece o príncipe encantado! — Franziu o cenho. — Ou será que conseguirá um rei com algo tão grande quanto um iguana.
— O senhor será o primeiro a saber quando isso acontecer — prometeu Lua.
O chefe acendeu um cigarro, divertido com a reação impas­sível da funcionária.
— Você me comprou este cinzeiro de Natal. — Acho que sim.
— Tentei parar de fumar.
— Não chamo sair à noite para comprar cigarros tentar pa­rar de fumar — comentou Lua, empurrando a correspondên­cia para perto do chefe, indicando que havia muito trabalho a fazer.
Arthur sorriu, indulgente.
— Sei que estou enrolando. Já lhe disse o quanto odeio res­ponder a cartas? Ainda estou tentando me recobrar de ontem à noite. Karol quis ir a um concerto. Ficamos sentados du­rante quatro horas ouvindo música de câmara. Odeio quarte­tos de cordas. Preferia ter ido a um show de música country, mas ela não considera violinos cultura.
Lua deu uma risadinha.
— Do que está rindo? Claro que você sabe que os violinos são parte do folclore americano, e isso é cultura!
— Para o senhor, chili é cultura! — Lua lembrou-o.
— Claro que é. É a única comida americana da qual gosto. Por que, em nome de Deus, abotoa as blusas até o queixo? Tem medo que eu enlouqueça só em ver um pouco do seu pes­coço nu? E nunca mais soltou o cabelo desde o Natal.
Os olhos da secretária se arregalaram. Era a coisa mais pes­soal que o chefe já lhe dissera e ela estava chocada.
— É blusa de gola alta — gaguejou.
.— Não gostei dela. Não dá para você comprar alguma coi­sa que tenha decote em "V"? E também podia comprar um vestido acinturado.
— Por que esta fixação pelo que eu visto? — explodiu ela, já sem paciência. — Meu cabelo está errado, não gosta das minhas roupas, não sei abotoá-las!
— Não sei — respondeu Arthur, deixando o olhar passear pelo que dava para ver das pernas bem torneadas de sua se­cretária, com visível interesse. — Talvez meu pai tenha razão e eu não deva ter uma secretária que se veste como velha.
Lua olhou-o, estupefata.
— Sr. Aguiar, o senhor está bem?
Arthur suspirou.
— Estou frustrado — respondeu ele, apagando o cigarro.
— Tente passar quatro meses sem mulher e veja o que acontece. Lua sentiu o rosto pegar fogo, mas não se deu por achada.
— Passei vinte e três anos sem mulher e estou muito bem, obrigada.
— Você entendeu o que eu quis dizer —; disse Arthur, bravo. Infelizmente, Lua entendia bem. Ele era o homem mais
franco que já conhecera. Dizia tudo o que pensava, não im­portava o quão chocante pudesse ser. Franzindo os olhos, Arthur prescrutou o rosto da secretária.
— Você nunca fala da sua vida amorosa.
— Acho que posso inventar algo, se o senhor ficar contente.
— Foi o que pensei.
Seu chefe a olhava de modo estranho. Parecia observá-la mais nesses últimos dias, fazendo-a sentir-se como um inseto ou um animal raro.
— Passar muitas noites sozinha pode tornar uma mulher vulnerável, sabe? — dizia o chefe. — Especialmente uma mu­lher do tipo reprimido.
— Está tentando me dizer alguma coisa? — finalmente Lua indagou, curiosa.
— Estou preocupado com você — declarou Arthur, surpreendendo-a. — Ben Meadows, o novo gerente de ven­das, me disse que está tentando sair com você há semanas, mas que você o manteve a distância. — E, sorrindo de modo pro­vocante, olhou-a com atenção. — Ben acha que você não sai com ele por ter uma queda por mim. Na verdade, meu pai tam­bém acha isso.
Lua não pôde evitar de ficar vermelha. Seu coração amea­çava saltar pela boca!
— Meu Deus!
— Não precisa fazer parecer como se isso fosse uma per­versão — disse o chefe, calmo. — As mulheres costumam me achar atraente.
— Um tipo de mulheres, com certeza. Não eu!
Arthur  ficou parado, fazendo-a imaginar se tinha ido longe demais dessa vez. Ele parecia imóvel, mas os olhos estavam franzidos e frios.
— Por que não você?
— É pessoal.
— E daí que é pessoal? Quero uma resposta.
Lua suspirou fundo. Não podia mentir para ele, mesmo que fosse melhor mentir.
— Porque o senhor é um mulherengo, sr. Aguiar. — E, bai­xando o olhar, continuou: — Sinto muito, mas não considero esse tipo de homem muito atraente.
O chefe deu uma longa baforada no cigarro, deixando es­capar uma nuvem de fumaça, os olhos mais frios que nunca.
— Acho que pedi por isto. Não percebi que tipo de respos­ta eu poderia ter. — E, sentando-se ereto na cadeira, inclinou-se para a frente. — Muito bem, Lua, você me convenceu que meu pai não sabe o que está falando. Vamos responder à corres­pondência.
Sentindo-se culpada por mentir, Lua não tinha como reti­rar o que dissera. Mas aprendera na primeira semana de tra­balho com Arthur o quanto ele respeitava uma pessoa de opinião forte, Sentia que havia ferido o amor-próprio do chefe. Arthur a tratava com indiferença, o que a magoava.
Perguntava-se por que ele era tão promíscuo. Em dois anos percebera qual o tipo de mulher que Arthur apreciava. Mas não conhecia seus sentimentos ou idéias. Sabia que sua mãe mor­rera havia dez anos e que o pai se casara novamente com uma mulher de nome Cynthia. Lua sabia que Arthur passava algum tempo com eles, embora nunca tivesse feito comentário a respeito.
Arthur  começou a ditar, andando de um lado para outro co­mo de costume, e Lua teve de esforçar-se para acompanhar seu ritmo.
No resto do dia seu chefe se manteve mais calado do que o normal. Atendera às ligações que ela passara, tivera as reu­niões de costume,,mas não pedira café e nem lhe dirigira mais a palavra.
No fim do expediente, saiu, apenas meneando a cabeça.
Lua viu-o ir embora, confusa. Talvez não devesse ter dito nada. Tinha complicado as coisas.
Cobrindo a máquina de escrever e o microcomputador, pe­gou sua bolsa, o casaco e dirigiu-se à fila do ônibus. Viu que sua condução chegava, mas seus pensamentos estavam longe, com seu chefe. Um dia desses beijarei meu iguana, dizia a si mesma, e ele se transformará num homem tão bonito quanto Robert Redford e aí o senhor vai se arrepender, sr. Aguiar! Ele vai me comprar casacos de mink e brilhantes e moraremos num lugar luxuoso.
Só percebeu que estava falando alto quando viu a expres­são da mulher a seu lado.
— Sou escritora — improvisou. — É um ótimo enredo, o príncipe iguana e…
— É? A parte sobre Robert Redford foi ótima — disse a mulher mais velha, que a observava. — Mas ninguém beija­ria um iguana!
Lua apenas sorriu.

E aí tão gostando? Posso postar o próximo capítulo???

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