quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Além da Pureza (Adaptada)




CAPÍTULO 3 parte I



Lua suspirava ante a atitude distante que o chefe tomou durante os dias que se seguiram. Não conversava mais do que o estritamente necessário, somente dirigindo-lhe. a palavra quando era assunto de trabalho. Nem a tratava mais como se ela fosse sua irmã mais nova. Lua sentia-se como uma peça do mobiliário do escritório e Arthur dificilmente lhe dirigia o olhar. Voltara a vestir-se do modo habitual, mas provavelmente o chefe nem notaria se ela fosse trabalhar nua, tal era sua in­diferença. Arthur dissera que não iria complicar o relacionamen­to deles, e, com efeito, estava mantendo a palavra!
Nunca Lua se sentira tão sozinha, nem quando se mudara para morar com a prima Jenny havia dois anos. Queria ser independente, viver a própria vida e seus pais tinham aceita­do aquela necessidade. Mas agora sentia falta da família e sentia falta de Jenny, que era uma boa ouvinte. A prima, porém, ainda estava viajando a trabalho. Gostaria de ter perguntado a Eugene se tinha notícias de Jenny, mas a ocasião não pare­cera das mais propícias.
Lua precisava ter alguém para conversar, pois só agora per­cebera o quanto Arthur crescera em importância em sua vida. Quer dizer, o quanto ela própria deixara que isso aconteces­se. Ia com entusiasmo para o trabalho porque o sorriso do chefe a fazia vibrar, sua masculinidade a excitava, seu humor a fazia rir. Só estar perto dele já o fazia sentir-se mais viva do que nunca.
Tinha sonhos eróticos com Arthur desde a manhã em que ele a acariciara nos lábios. Mas aquela manhã podia nem ter acon­tecido, pois Arthur estava determinado a ser apenas profissio­nal durante o trabalho. E Karol andava muito em evidência nesses últimos dias. Arthur falava nela a toda hora, como se quisesse impedir que Lua alimentasse idéias românticas a seu respeito.
Terminando de digitar as cartas, Lua as pôs de lado; os dedos finos ainda descansavam sobre o teclado do micro. Tal­vez Arthur quisesse mandá-la embora. O pensamento a fez sentir-se profundamente infeliz. Estava acostumada com o humor do chefe e com seu temperamento e não gostava da idéia de trabalhar para outra pessoa. Mas, se era isso o que ele queria…
Arthur apareceu quando Lua fazia planos para o futuro, fazendo-a pular de susto ao ouvi-lo.
— Nervosa? — ele perguntou. — Algo errado? Lua entregou-lhe as cartas impressas no fino papel timbrado da empresa.
— Pelo amor de Deus! — explodiu Arthur. — Agora chega! O que está errado?
— Quer que eu me demita? — Lua perguntou, decidida.
— Você quer se demitir?
Ela baixou os olhos para a camisa branca e bem passada do chefe.
— É um bom emprego — começou ela. — Mas se prefere me mandar embora, eu irei.
— Não sei o que prefiro — foi a resposta lacônica. Tenta­ra não prestar atenção na secretária, tentara ser frio, mas aquilo se voltara contra ele. Ele a magoara de novo e sentia-se terrí­vel com a vulnerabilidade dela. Por que não conseguia esque­cer a expressão de Lua quando quase a beijara? Por que não conseguia achar consolo na companhia de Karol?
Com um longo suspiro, Arthur pegou uma das mãos de Lua, levando-a até seu próprio peito. Embaixo do fino tecido da camisa, ela podia sentir os músculos rijos e o calor daque­le corpo. Arthur  estava em silêncio enquanto Lua pressionava os dedos contra o peito forte, fazendo com que ele precisasse se esforçar muito para não fazer com ela tudo o que tinha vontade.
Lua sentia-se derreter por dentro. Sentia o calor que ema­nava de Arthur, podia perceber os pêlos finos cobrindo o peito másculo. Nunca o vira despido, mas, nesse momento, deseja­va ter visto. Imaginava como Arthur seria por baixo das rou­pas, e como seria senti-lo envolvendo-a com seus braços e beijando-a ardentemente, como fazia com todas as outras. Queria ouvi-lo sussurrar, como tinha feito aquele dia no campo de petróleo de Harry Deal.
De modo involuntário, Lua deixou escapar um suspiro. Não conseguia mais respirar direito é agora sabia que sua mente também não funcionava mais como de costume. Só uma mu­lher louca se permitiria ficar tão curiosa assim com relação a um chefe mulherengo.
Os dedos experientes de Arthur acariciaram os de Lua e ele pôde ouvi-la respirando com dificuldade, maravilhado por ver que a secretária estava dócil e quieta. Ficara lisonjeado quan­do Ben Meadows e seu pai haviam sugerido que a secretária tinha uma queda por ele, por isso quase a beijara no carro. Só que não contara com o efeito devastador que Lua teria nele e nem com os comentários que ela fizera acerca de seu modo de vida. Sempre imaginara como Lua reagiria se rece­besse uma cantada de seu chefe. Sentira-se tentado a fazer is­so nas últimas semanas, graças aos constantes comentários do pai, chamando sua atenção para a funcionária. Lua era bo­nita e estava começando a perturbá-lo fisicamente, Tentara ignorá-la, mas estava ficando impossível não reparar nela.
— Seus dedos estão gelados — comentou Arthur, a voz rou­ca, por sentir o perfume de lavanda que emanava de Lua, em contraste com os perfumes franceses das moças com quem costumava sair. Mulheres que corriam atrás dele e cuja agres­sividade o irritava. Não havia nada de agressivo em Lua e ela era pura e inocente. Isso fazia com que Arthur  começasse a nutrir algumas fantasias a seu respeito, sobre como iniciá-la nos mistérios da intimidade. Não podia esquecer-se da expres­são nos olhos cinzentos quando ele sussurrava o quanto que­ria beijá-la e ser seu professor…
— O escritório está frio — foi o comentário de Lua.
— Vou aumentar a temperatura do ar-condicionado.
— Faça isso — respondeu Arthur, surpreso com a tonalida­de normal da voz de sua secretária. Mas, apesar do que disse­ra, não a largou. Uma das mãos foi desde o pescoço até o delicado queixo,levantando-lhe o rosto. Seus dedos passea­ram preguiçosamente por seu rosto até pararem nos lábios. Era exatamente o que havia feito no carro, provocando o mes­mo choque nos olhos cinzentos, enquanto um gemido escapava da boca feminina.
Arthur gostou daquele som. Gostou mais ainda da sensuali­dade chocada que via refletida nos olhos dela, muito mais forte do que no outro dia. A fascinação estampada na expressão de Lua falava por si mesma. O toque de seus dedos tornou-se mais insistente e os lábios carnudos se abriram para ele. Com a outra mão, Arthur segurou-lhe a nuca firmemente.
— É aqui que a brincadeira acaba — disse, a voz rouca. — Quando minha boca cobrir a sua, não haverá volta.
— Não é justo — protestou fracamente Lua, como que meio encantada com toda a cena. — É como pescar com um tubo de dinamite…
— Sim — Arthur concordou, a voz suave, começando a se aproximar mais e mais dela. — Vai ser assim que nos sentire­mos, querida, como dinamite sendo explodida. Gosto disso. Assim…
Lua sentiu que a mão de Arthur segurava sua nuca de modo mais firme, fazendo seus joelhos tremerem. Podia respirar o hálito quente que emanava da boca tão próxima da sua.
Mas, quando sentiu o leve toque dos lábios de Arthur nos seus, ouviu a campainha insistente do telefone, desfazendo toda a magia do momento. Lua tremia dos pés à cabeça, sem con­seguir se mover. Quem teve de atender ao telefone foi seu chefe.
— Aguiar.
— Arthur, pode sair mais cedo hoje para ir a um jantar de caridade comigo? — perguntou a voz melodiosa de Karol. — É em benefício do Hospital Infantil.
— Hoje? — repetiu Arthur, de modo ausente. — Acho que sim. Eu apanho você às cinco horas.
— Que amor! Obrigada, querido. Até mais tarde. Karol desligou, mas Arthur não pôs o fone no gancho. Ain­da estava olhando para a expressão chocada de sua secretária.
O silêncio entre eles era tão explosivo agora quanto havia poucos segundos, mas nenhum dos dois conseguia proferir pa­lavra, e foi nesse instante que Ben Meadows entrou na sala, com um monte de papéis.
— Desculpe incomodá-la, mas preciso de algumas cópias xerox — disse ele, entregando a pilha nas mãos de Lua.
— Pode… deixar comigo — ela respondeu, pegando os papéis e saindo correndo para a sala onde ficava a máquina de xerox.
Durante o resto do dia, Arthur não se aproximou de Lua de novo. Ela não sabia se ficava feliz ou não com aquilo, mas o relacionamento deles havia mudado para sempre naqueles minutos cruciais.
Após o expediente, foi para seu apartamento solitário, de­sejando que sua prima estivesse lá. Mas a prima mais velha, uma loira estonteante, não voltaria tão cedo. Jenny passava a maior parte do tempo em expedições para lugares rústicos e Lua sabia que às vezes eram lugares perigosos. Certa vez um homem a seguira até o apartamento, tentando conseguir informações preciosas sobre os metais que estavam sendo ex­plorados.
Mesmo agora, as cartas de Jenny era cheias de intrigas so­bre seu emprego e Lua se preocupava com ela. Já invejara o trabalho da prima, mas, quanto mais ficava com Arthur, me­nos sentia atração pelo modo de vida de Jenny. Soem pensar em mudar de emprego já a entristecia. E Lua se recusava a admitir por quê.
Ao abrir a porta, viu Jenny, como que em resposta aos seus pensamentos. Jenny estava mais linda do que nunca, bron­zeada e exuberante.
— Lu! — exclamou ela, feliz, abraçando a prima. — Co­mo é bom estar em casa de novo!
— Você não devia estar aqui! — riu Lua, toda feliz. — Puxa, mas fico contente por você estar! Você está linda!
E estava mesmo. O longo cabelo loiro caía em ondas sua­ves, e sua roupa branca contrastava com o dourado de sua pele. E olhou a prima, desejando ser parecida com ela.
— Quanto tempo você pode ficar?— indagou, enquanto ia até a cozinha preparar o jantar.
— Só esta noite — foi a resposta, para desencanto de Lua. — Desculpe, querida, mas estou a caminho de outro lu­gar. E não posso contar mais nada além disso. Não se preocupe. Só se preocupe com o lagarto aqui. Norman fica me olhando como se imaginasse qual é o meu sabor.
-- Ele não come carne. É vegetariano — explicou pela ené-sima vez Lua, como vinha fazendo desde que trouxera o animal para casa havia dois anos.
Norman era ótima companhia, não era exigente, sempre fi­cava quieto em seu canto e era um excelente repelente para ladrões. Uma vez, um ladrão tentara entrar no apartamento e fugira, em pânico, após dar de cara com o réptil, quase atro­pelando Lua no caminho. Norman ficara no corredor da sa­la, olhando tudo com sua expressão indiferente, a boca aberta e a cauda abanando ameaçadoramente para o intruso. Quan­do Norman fosse mais velho, sua cauda seria ainda mais amea­çadora e Lua sentia orgulho dele. Só não ficara muito satisfeita quando um namorado seu fugira para sempre depois de ver seu animal de estimação.
— Que acontece se ele me morder e gostar? Lembra-se do Capitão Gancho e do crocodilo? — Jenny comentou.
— Norman nunca experimentou você. — Lua sorriu. — E de qualquer modo, ele gosta de você!
— Gosta? — Jenny estava incrédula. — Como você pode saber? — perguntou, observando o lagarto.
— Posso ler a mente de Norman. Sei que você adora seu emprego, mas é mesmo necessário todo esse suspense?
Jenny riu, deliciada.
— É preciso, sim. Considero como um serviço patriótico para o meu país. Talvez até para o mundo, quem sabe? Ago­ra chega de falarmos de mim. Conte-me sobre você.
— Não há nada a contar. Não sou linda como você.
— Eu não sou linda. Só tento melhorar o máximo de mim que posso. Na verdade — disse Jenny, estudando a prima mais nova — você também pode ser linda. Pode ser muito atraen­te, se quiser. Por que tem esta compulsão em se disfarçar pa­recendo um móvel ou uma parede?
— Não estou imitando coisas inanimadas. Só estou me pre­servando, é só.
— Conhecendo seu apetitoso chefe, o sr. Aguiar, posso en­tender. Ele derreteria um muro de tijolos. Mas ele não é o único homem na face da terra, Lu. E você já tem quase vinte e qua­tro anos. Não se enterre naquele escritório passando a vida nutrindo uma paixonite pelo chefe bonitão.
Lua arregalou os olhos.
— Não estou nutrindo uma paixonite por Arthur Aguiar!
— Não está? — indagou Jenny, apanhando pão e maione­se da geladeira, fazendo uma pausa para pegar talheres e pra­tos antes de sentar-se. Seus olhos azuis eram bondosos e preocupados. — Você só fala nele, quando eu estou em casa. Não sai com nenhum homem há quase um ano.
— Não-quero ter de lutar com os homens — explicou Lua.
— Não é isto. Você está apaixonada pelo Sr Aguiar.

— Isto é ridículo! — Lua riu, nervosa. — Pegue um pou­co de presunto.

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