quinta-feira, 25 de julho de 2013

Além da Pureza - Momentos Íntimos (Adaptada)



CAPÍTULO 2 parte I


Norman estava em cima do aquecedor, como de costume, quando Lua chegou em casa. O animal abriu os olhos e os fechou, o longo corpo verde-esmeralda esticado.
— Você parece tão entusiasmado, Norman — suspirou Lua fazendo uma pausa para acariciá-lo.
O iguana parecia feroz, pensou, lembrando-se da expres­são horrorizada do sr. Aguiar quando ela mencionara que pos­suía um iguana. Mas era só aparência, no caso de Norman. Lua cuidara dele desde quando era um filhote e não o acha­va nem um pouco amedrontador. Era difícil ter medo de uma criatura que gostava de quiche de espinafre e respondia a as­sobios.
Esquentando um quiche de espinafre para Norman, Lua pôs uma sonata de Beethoven na vitrola. Adorava música eru­dita. Isto sim, era cultura.
Ao servir o quiche numa vasilha, Norman preguiçosamen­te saiu de cima do aquecedor para degustar sua refeição. Nor­man não era muito regular quanto às refeições. Alimentava-se a cada dois ou três dias, mas, mesmo assim, estava bastante saudável. Sua cauda enorme é que lhe dava pesadelos. Era lon­ga e Lua morria de medo de pisar nela, pois sabia que era o orgulho do réptil.
Passou a noite toda pensando em Arthur Aguiar e em seu es­tranho comportamento. Primeiro, seu chefe quisera que ela se vestisse de forma mais feminina, depois a acusara de ser apaixonada por ele e depois parecera enfurecido com a nega­tiva da secretária. Arthur era mesmo o homem mais intrigante que já conhecera.
Por fim, Lua deitou-se, deixando Norman sobre o aquecedor. As noites ainda eram frias e o calor do aparelho o atraía. Norman era tão previsível! Sempre podia achá-lo sobre o aquecedor ou em cima do jornal no banheiro, onde já estava acos­tumado a fazer as necessidades. Ainda bem que o sr. Aguiar nunca a tinha visitado em casa, pensou, ao se deitar. Norman o faria desmaiar.
Fechou os olhos com determinação, mas continuava a ver seu chefe, o rosto largo e enigmático a sua frente. Negara es­tar atraída por ele e ainda bem que aprendera a esconder o fato. Se confessasse que tinha uma queda por ele naquela ho­ra, quando Arthur fizera a acusação, estaria perdida e procu­rando outro emprego.
Claro que nunca teria chance com um homem como Arthur, suspirou Lua, virando-se na cama. Arthur era maluco por mu­lheres. Lua nem seria notada. Só queria saber por que o che­fe ficara tão irritado quando ela dissera que era mulherengo. Claro que não queria que Lua tivesse uma queda por ele! Claro que não. Lua gemeu e rolou, de um lado a outro da cama, sem sossego. Precisava tentar dormir um pouco.
Na manhã seguinte, sentia como se não tivesse pregado o olho por uma hora sequer. Seu corpo doía, reclamando as horas de descanso. Lua foi trabalhar meio tonta e sonolenta, colo­cando apressada um vestido acinturado e decotado, sem o no­tar. Por falta de tempo, também não prendera o cabelo no coque habitual. .
O sr. Aguiar normalmente chegava meia hora depois da se­cretária, todos os dias. Hoje, era óbvio, chegara antes. Res­mungando mentalmente enquanto tentava entrar pé ante pé no escritório, Lua preparou-se para um sermão. O sr. Aguiar, contudo, nada disse, limitando-se a olhá-la feio e a apontar-lhe o relógio, indicando que sabia muito bem que ela se atra­sara em dez minutos. Estava ao telefone, falando eom um cliente.
Lua murmurou uma desculpa, apressando-se em tirar o ca­saco pesado para começar logo suas atividades.
— Não tire — foi a voz do chefe se dirigindo a ela, cobrin­do o bocal do telefone. — Pegue caneta e um bloco; nós va­mos até uma plataforma pegar alguns dados sobre um novo equipamento que eu fiz para Harry  Deal.
Lua quase rangeu os dentes. Harry Deal era um velho que odiava mulheres e que não escondia o fato. Fazia-a sentir-se como isca para peixes e seu chefe sabia como ela se sentia. E devia ser por causa disso que queria que Lua fosse junto, pensou ela, sentindo-se péssima. Vai ver Arthur queria se vin­gar por tudo que ela dissera no dia anterior sobre não querer nada com um mulherengo.
— Não hoje — ela suspirou baixinho para si mesma, pon­do o casaco e pegando as outras coisas. — Não estou disposta a agüentar Harry Deal hoje.
— Pare de resmungar — ordenou o chefe, abrindo a porta do escritório; os olhos frios examinavam a aparência da se­cretária. Mas foi só chegar até a curva dos seios fartos para que o olhar frio se derretesse. O braço que segurava a porta agora se estendia até o batente, claramente impedindo a pas­sagem de Lua.
Ela olhou-o sem entender, apreensiva. De perto, o chefe era ainda mais devastador. O casaco bege caía-lhe muito bem, nem largo, nem apertado demais. Na medida. O olhar de Lua foi baixando para o peito musculoso, as pernas firmes de atleta. Podia sentir o calor daquele corpo, fazendo-a ter vontade de abraçá-lo.
— Isto tudo é por minha causa? — indagou Arthur, a voz baixa e perigosamente mansa.
O coração de Lua estava aos pulos e seus olhos cinzentos se encontraram com o par de olhos castanhos.
— Claro que não — gaguejou. — Eu..; estava atrasada e não tive tempo de prender o cabelo. Pensava em prendê-lo ao chegar aqui, no escritório, mas nós vamos sair e…
— Não estou falando do cabelo — replicou Arthur, a voz bas­tante controlada, deliberadamente acariciando com o braço o ombro de Lua, fazendo-a sentir-lhe o hálito de perto. — Cuidado — murmurou em tom suave. — Você mesma disse que eu era mulherengo. Usar algo assim tão sexy pode me dar idéias.
O olhar chocado de Lua prendeu-se no dele, audacioso e provocante. Era como se uma eletricidade passasse entre eles, por um longo momento.
— Não… foi essa minha intenção.
— Não foi? — Arthur tirou o braço, ficando de lado para que ela passasse.
Com as pernas fracas, Lua mal soube como conseguira pas­sar por ele naquele momento crucial. Seu rosto ardia em cha­mas ao perceber como era vulnerável àquele homem. E ele nem estava tentando nada. Imagine só como reagiria se Arthur esti­vesse lhe passando uma cantada…
Houve um silêncio pesado entre eles durante o percurso todo.

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