
CAPÍTULO 2 parte I
Norman estava em cima do aquecedor, como
de costume, quando Lua chegou em casa. O animal abriu os olhos e os fechou, o
longo corpo verde-esmeralda esticado.
— Você parece tão entusiasmado, Norman —
suspirou Lua fazendo uma pausa para acariciá-lo.
O iguana parecia feroz, pensou,
lembrando-se da expressão horrorizada do sr. Aguiar quando ela mencionara que
possuía um iguana. Mas era só aparência, no caso de Norman. Lua cuidara dele
desde quando era um filhote e não o achava nem um pouco amedrontador. Era
difícil ter medo de uma criatura que gostava de quiche de espinafre e respondia
a assobios.
Esquentando um quiche de espinafre para
Norman, Lua pôs uma sonata de Beethoven na vitrola. Adorava música erudita.
Isto sim, era cultura.
Ao servir o quiche numa vasilha, Norman
preguiçosamente saiu de cima do aquecedor para degustar sua refeição. Norman
não era muito regular quanto às refeições. Alimentava-se a cada dois ou três
dias, mas, mesmo assim, estava bastante saudável. Sua cauda enorme é que lhe dava
pesadelos. Era longa e Lua morria de medo de pisar nela, pois sabia que era o
orgulho do réptil.
Passou a noite toda pensando em Arthur
Aguiar e em seu estranho comportamento. Primeiro, seu chefe quisera que ela se
vestisse de forma mais feminina, depois a acusara de ser apaixonada por ele e
depois parecera enfurecido com a negativa da secretária. Arthur era mesmo o
homem mais intrigante que já conhecera.
Por fim, Lua deitou-se, deixando Norman
sobre o aquecedor. As noites ainda eram frias e o calor do aparelho o atraía.
Norman era tão previsível! Sempre podia achá-lo sobre o aquecedor ou em cima do
jornal no banheiro, onde já estava acostumado a fazer as necessidades. Ainda
bem que o sr. Aguiar nunca a tinha visitado em casa, pensou, ao se deitar.
Norman o faria desmaiar.
Fechou os olhos com determinação, mas
continuava a ver seu chefe, o rosto largo e enigmático a sua frente. Negara estar
atraída por ele e ainda bem que aprendera a esconder o fato. Se confessasse que
tinha uma queda por ele naquela hora, quando Arthur fizera a acusação, estaria
perdida e procurando outro emprego.
Claro que nunca teria chance com um
homem como Arthur, suspirou Lua, virando-se na cama. Arthur era maluco por mulheres.
Lua nem seria notada. Só queria saber por que o chefe ficara tão irritado
quando ela dissera que era mulherengo. Claro que não queria que Lua tivesse uma
queda por ele! Claro que não. Lua gemeu e rolou, de um lado a outro da cama,
sem sossego. Precisava tentar dormir um pouco.
Na manhã seguinte, sentia como se não
tivesse pregado o olho por uma hora sequer. Seu corpo doía, reclamando as horas
de descanso. Lua foi trabalhar meio tonta e sonolenta, colocando apressada um
vestido acinturado e decotado, sem o notar. Por falta de tempo, também não
prendera o cabelo no coque habitual. .
O sr. Aguiar normalmente chegava meia
hora depois da secretária, todos os dias. Hoje, era óbvio, chegara antes. Resmungando
mentalmente enquanto tentava entrar pé ante pé no escritório, Lua preparou-se
para um sermão. O sr. Aguiar, contudo, nada disse, limitando-se a olhá-la feio
e a apontar-lhe o relógio, indicando que sabia muito bem que ela se atrasara
em dez minutos. Estava ao telefone, falando eom um cliente.
Lua murmurou uma desculpa, apressando-se
em tirar o casaco pesado para começar logo suas atividades.
— Não tire — foi a voz do chefe se
dirigindo a ela, cobrindo o bocal do telefone. — Pegue caneta e um bloco; nós
vamos até uma plataforma pegar alguns dados sobre um novo equipamento que eu
fiz para Harry Deal.
Lua quase rangeu os dentes. Harry Deal era
um velho que odiava mulheres e que não escondia o fato. Fazia-a sentir-se como
isca para peixes e seu chefe sabia como ela se sentia. E devia ser por causa
disso que queria que Lua fosse junto, pensou ela, sentindo-se péssima. Vai ver
Arthur queria se vingar por tudo que ela dissera no dia anterior sobre não
querer nada com um mulherengo.
— Não hoje — ela suspirou baixinho para
si mesma, pondo o casaco e pegando as outras coisas. — Não estou disposta a
agüentar Harry Deal hoje.
— Pare de resmungar — ordenou o chefe,
abrindo a porta do escritório; os olhos frios examinavam a aparência da secretária.
Mas foi só chegar até a curva dos seios fartos para que o olhar frio se
derretesse. O braço que segurava a porta agora se estendia até o batente,
claramente impedindo a passagem de Lua.
Ela olhou-o sem entender, apreensiva. De
perto, o chefe era ainda mais devastador. O casaco bege caía-lhe muito bem, nem
largo, nem apertado demais. Na medida. O olhar de Lua foi baixando para o peito
musculoso, as pernas firmes de atleta. Podia sentir o calor daquele corpo,
fazendo-a ter vontade de abraçá-lo.
— Isto tudo é por minha causa? — indagou
Arthur, a voz baixa e perigosamente mansa.
O coração de Lua estava aos pulos e seus
olhos cinzentos se encontraram com o par de olhos castanhos.
— Claro que não — gaguejou. — Eu..;
estava atrasada e não tive tempo de prender o cabelo. Pensava em prendê-lo ao
chegar aqui, no escritório, mas nós vamos sair e…
— Não estou falando do cabelo — replicou
Arthur, a voz bastante controlada, deliberadamente acariciando com o braço o
ombro de Lua, fazendo-a sentir-lhe o hálito de perto. — Cuidado — murmurou em
tom suave. — Você mesma disse que eu era mulherengo. Usar algo assim tão sexy
pode me dar idéias.
O olhar chocado de Lua prendeu-se no
dele, audacioso e provocante. Era como se uma eletricidade passasse entre eles,
por um longo momento.
— Não… foi essa minha intenção.
— Não foi? — Arthur tirou o braço, ficando de lado para que ela passasse.
Com as pernas fracas, Lua mal soube como conseguira passar por ele
naquele momento crucial. Seu rosto ardia em chamas ao perceber como era
vulnerável àquele homem. E ele nem estava tentando nada. Imagine só como reagiria
se Arthur estivesse lhe passando uma cantada…
Houve um silêncio pesado entre eles durante o percurso todo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixem suas opiniões, sem xingamentos e ofensas a quem quer que seja, seram bem vindas criticas, desde que sejam construtivas! bjuxxx e faça bom proveito da leitura ;)