Capítulo 4 parte final
Despejando café bem preto numa caneca,
sentou-se ao lado dela, oferecendo-lhe a bebida.
— Oi — murmurou Lua.
— Oi para você também. Meu Deus, que dor
de cabeça você vai ter. Tome. Sente-se e beba isto.
Com dificuldade, Lua apoiou-se num dos
cotovelos, olhando para o chefe, sentindo o corpo mole.
— Está forte demais — reclamou Lua ao
tomar o primeiro gole.
— Tinha de ser forte — replicou Arthur,
paciente. — Não posso dirigir o escritório sozinho.
Lua prendeu a respiração, de repente
dando-se conta da situação.
— Meu Deus, sr. Aguiar — gaguejou,
corando violentamente.— Ben pediu uma garrafa de vinho branco tão caro que eu
não queria, mas fiquei com vergonha de recusar.
Nada daquilo fazia sentido. O repentino
interesse de Ben por sua secretária. Ben era o verdadeiro playboy da empresa,
apesar de atuar com muita discrição. Gostava de mulheres sofisticadas e que
bebiam, o que não era o caso de Lua.
— Seus pais deviam tê-la encorajado a
sair com rapazes quando você era adolescente. Você não tem experiência para
reconhecer um playboy.
Lua levantou as sobrancelhas.
— Claro que sei reconhecer um playboy.
Eu trabalho para um.
Arthur não sorriu. Sabia que merecia
aquilo.
— Sei que a imagem é essa — suspirou. —
E eu encorajo isso. Mas não cometa o erro de achar que sou tudo aquilo que
pareço,ser.
Aquilo não fazia sentido. Claro, nada
mais fazia.
— Ben é legal.
— É por causa dele que mudou seu uniforme
de sempre? — quis saber Arthur, curioso. Seus olhos passeavam pelo corpo de
Lua.
— Eu não uso uniforme — ela se defendeu.
— Saias compridas e blusas abotoadas até
o pescoço e o cabelo preso num coque. Você nunca vem trabalhar de mini-saia,
como veio hoje. Só uma vez.
— Sei que mulheres sexy ficam em perigo
face a homens farristas. O senhor me disse para não lhe dar idéias erradas.
— Eu disse muita coisa — replicou Arthur
bravo.
— E estava certo — ela só concluiu,
imaginando por que ele estava tão bravo. — Não tenho casos de uma noite e o senhor
não ia querer uma secretária que fosse seduzida pelo patrão. Só me vesti assim
por causa de Ben.
— Lua, sei que pode parecer difícil de
você acreditar, mas também não gosto de casos de uma noite. Não durmo com
qualquer uma, por aí.
— Claro. — Lua deu uma risadinha.
— Só uma criança como você pode
acreditar numa fachada como a que criei para mim.
— O modo como o senhor beijou Karol não
era fachada — disse Lua, com raiva.
Arthur olhou-a com interesse repentino.
— Eu não disse que sou totalmente
inexperiente. Eu.disse que não fico dormindo por aí com todas as mulheres que
aparecem.
— Então, por que todo mundo pensa que
sim?
— Porque isso mantém as mulheres
interessadas em casamento longe de mim. Nenhuma mulher que queira se casar se
interessa por um homem que age como playboy.
— Acho que não mesmo. — Lua não estava
bem certa de estar ouvindo direito ou se aquilo era efeito do álcool.
— Você não está sonhando. Sua cabeça lhe
dirá isto mais tarde. — E Arthur começou a acariciar os lábios entreabertos de
Lua. — Você ficou aborrecida ao me ver beijando Karol? — ele perguntou, de modo
inesperado, vendo a resposta na expressão do rosto dela.
Lua terminou o café. Suas mãos tremiam.
— Estou melhor agora. Vou voltar ao
trabalho.
Mas Arthur não se moveu e nem ela
poderia, tampouco. A mão dele acariciava seu rosto e os olhos azuis começaram a
escurecer.
— Algum homem já a amoldou ao corpo dele
deste modo e pôs a boca contra a sua, como se estivesse morrendo para fazer
isto?
Lua corou de forma violenta.
— Os homens não se sentem desta forma
com mulheres como eu.
— Por que não? — Os dedos experientes
desciam pelo pescoço fino.
— Não sou… o tipo de mulher que inspira
emoções violentas. Sou antiquada e quieta e…
— E extremamente sexy — murmurou Arthur,
o hálito quente perto de Lua, os lábios tocavam os dela suavemente. — Dê-me
isto — ordenou ele, pegando a xícara de café, vazia.
— Outro dia, o senhor disse…
— Eu disse que uma vez que minha boca
cobrisse a sua, não haveria volta — sussurrou Arthur, segurando-a de modo mais
firme. — E falei sério. Não se afaste de mim. Deixe-me amoldar.minha boca na
sua… deixe que ela abra sua boca, do modo como eu disse que faria… oh, Lua…
Arthur deslizou os lábios por cima dos
dela, os olhos fechados, tentando abrir os lábios femininos e macios, com
gentileza e cuidado, o beijo tornava-se cada vez mais íntimo e quente. Lua
podia sentir a língua de Arthur explorando cada canto de sua boca,
assustando-se com a invasão. Sempre evitara aquele tipo de beijo, mas não conseguia
desvencilhar-se de Arthur. Será que queria desvencilhar-se?
Gemendo, enterrou as unhas nos ombros
fortes, como que pedindo apoio.
Arthur precisou de toda a sua força de
vontade para parar.
— Você nunca permitiu este tipo de beijo
antes, não foi?
— O senhor… me forçou.
— Forcei, sim. Você precisa de um
professor.
O coração de Lua batia descompassado.
Nunca sentira algo parecido, com ninguém. A intimidade tinha sido extremamente
excitante. Perigosa. Imaginava se seria assim também na cama…
— Foi apenas um beijo, Lua. Nada para
ficar tão preocupada.
— Seria exatamente assim… na cama. —
sussurrou ela, morta de medo da descoberta sobre si mesma que acabava de
fazer.
— Sim, exatamente assim. Você perderia o
medo e se entregaria a mim. Eu a trataria do modo mais gentil possível e você
se colaria no meu corpo, querendo mais e mais. Aí, você não teria mais medo e
seria como labaredas subindo no escuro, como relâmpago à noite. Você
resistiria, mas só por alguns segundos. Então, você iria querer de novo e nós
dois iríamos queimar juntos, no auge da paixão.
O corpo de Lua tremeu de modo violento só
em pensar na descrição de Arthur.
— Um dia — continuou ele, a voz rouca —
você será minha. Apesar de tudo, você ficará nos meus braços e se entregará a
mim.
Mal podendo respirar, Lua enterrou o
rosto no pescoço de Arthur, como que pedindo proteção dele mesmo, abraçando-o
forte. Tinha tido medo desse momento desde a primeira vez em que o vira, só que
fora um medo subconsciente. Arthur abraçou-a, aninhando-a em seu peito.
Lua devia ter protestado quando Arthur
fizera suas previsões, mas sabia que aquela era a verdade. Se não se afastasse
daquele escritório, seria exatamente aquilo que iria acontecer. Agora, que
experimentara o gosto de Arthur, não seria o suficiente. Fechou os olhos e
quis chorar.
Sentiu que Arthur se movia, deitando-se
com ela no sofá, ajeitando-a. A expressão descontrolada de seu chefe a assustou,
e o olhar dele era excitante e amedrontador ao mesmo tempo.
Foi nesse instante que ouviram alguém na
sala de espera.
— Há alguém aí?
Ambos pularam. Arthur soltou Lua e ficou
de pé.
— Meu Deus! — sussurrou Arthur, os olhos
fixos nos de Lua, saindo para a sala de espera.
Elisa ficou ali, sentada no sofá,
sentindo as pernas bambas. Estava delirando ou Arthur Arguiar a havia beijado,
fazendo-a ficar submissa?
Terminou a segunda xícara de café,
quando Arthur voltou para a sala.
— Está melhor? — quis saber ele.
— Sinto muitíssimo. Não quis beber no
almoço e nunca mais farei isso. Eu… — disse, sem conseguir afastar os olhos do
sofá, onde havia pouco estivera deitada, em abandono total. — Vou voltar ao
trabalho, agora.
E, antes de abrir a porta, continuou:
— Quero que me desculpe pelo meu
comportamento de há pouco. Foi o vinho. Nunca fiz nada assim antes. Espero que
não fique com a impressão errada a meu respeito.
— Não. Não há por que ficar
envergonhada, Lua.
— Me desculpe, sr. Aguiar.
— Meu nome é Arthur.— disse seu chefe, a
voz suave.
— Eu sei, mas…
— Se não me chamar pelo nome na frente
dos clientes, tudo bem. Mas quando estivermos a sós, não quero mais ser chamado
de sr. Aguiar.
— Tudo bem, Arthur — disse ela, por fim,
vendo que o chefe não conseguia tirar os olhos de sua boca.
Lua é uma mulher perigosamente
excitante, pensou Arthur. Virgem esperando pelo homem com quem se casará. Uma
raridade. Por que não conseguia' lembrar-se disto mais vezes?
— Ligue-me com Howard Drake, sim? —pediu
Arthur, forçando-se a sentar-se a sua mesa.
— Sim senhor — e, dizendo isto Lua
voltou para a sua mesa e fez a ligação. Seria um grande desafio passar por
aquele dia. Era como uma linha divisória em sua vida, mas, para onde a conduziria,
Lua não sabia dizer.
posta++++++++++++++++++++++++
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