CAPÍTULO 4 parte I
Lua nunca estivera num restaurante caro
antes, exceto com os pais de Jenny, numa ocasião, havia anos. A decoração do
lugar era exótica e o menu estava escrito em francês: Escolheu um frango que
não seria um rombo muito grande no bolso de Ben e olhou, divertida, enquanto
ele optava por filé e lagosta e uma garrafa de vinho branco importado.
— Só um copo para mim, por favor — pediu
Lua, com um sorriso, enquanto saboreavam a refeição. Ben havia enchido o
próprio copo umas três vezes e ia encher o dela pela segunda vez, quando Lua
pôs delicadamente a mão em cima de seu copo. — Não estou acostumada a beber
álcool.
— É mesmo? Preciso me lembrar disto.
— Seu demônio! — brincou Lua,
bem-humorada, bebericando o vinho suave, degustando seu leve sabor e bouquet.
— Foi muita gentileza sua me convidar para sair.
— Gostaria de tornar isto um hábito —
declarou Ben, olhando-a de modo apreciativo. — Pensei que você nunca aceitaria.
— Não saio muito — confessou ela. — Não
sou uma garota liberada.
Ben levantou as sobrancelhas.
— Sério? — brincou ele.
— Sério.
Após estudá-la por um breve momento,
começou a rir.
— Se isto é verdade, então você é única
e eu a saúdo — disse, levantando o copo. — Mas você é a primeira das secretárias
de Arthur que pode dizer isto. Não que ele seja um homem mau. Ele não é.
Apenas gosta de mulheres.
Lua deu um suspiro.
— Assim ouvi contar — ela respondeu,
suspirando de modo involuntário. — Mas ele não gosta de mim; pelo menos não do
jeito como você está falando.
— Então Arthur deve ser cego — disse
Ben, sorrindo de forma gentil. — Você é muito bonita.
Lua corou.
— Obrigada.
Ben tomou mais um gole de seu vinho. .
— Existem mais iguais a você em casa? —
perguntou Ben, com uma inflexão estranha na voz.
— Sou filha única — sorriu Lua. — Tenho
uma prima que é linda, mas ela não passa muito tempo em casa.
— Por que não?
Lua então começou a contar a razão, a
língua solta com o efeito do álcool. Mas, após alguns minutos, percebeu que
estava gaguejando.
— Desculpe. Acho que o vinho subiu um
pouco.
— Acontece que tudo em você me fascina —
Ben se apressou em dizer. — E sua prima parece ser uma mulher bastante
interessante. Que pena que não fixe raízes em lugar nenhum.
— E o que penso.
— Imagino que goste de dividir um
apartamento com ela, já que sua prima está fora o tempo todo.
— Gosto, sim. Ela esteve em casa no
começo desta semana, mas somente pernoitou. — Lua riu, pondo o copo de lado.—
Puxa, Ben, essa coisa é mesmo potente!
— É o que dizem — ele concordou,
mordendo o lábio de novo, estudando-a com atenção. — Eu gostaria de conhecê-la
melhor Lua Blanco. Isto é, se você concordar e se seu chefe não tiver seu nome
na lista dele. Não quero passar por cima de Arthur Aguiar.
— Não pertenço ao sr. Aguiar — Lua
apressou-se em informá-lo. — Nunca percebi que as pessoas achavam que eu
pertencesse.
— As pessoas, não: Apenas eu. — Ben deu
de ombros. — Sou novo na empresa. Tudo o que sei sobre as pessoas é o que ouço
falar.
— Onde você trabalhou antes? — perguntou, com um sorriso.
— Na Califórnia — ele respondeu,
claramente pouco à vontade e mudando depressa de assunto: — Conte-me sobre
esses negócios de geologia. É na empresa do pai de Aguiar que sua prima trabalha,
não? Pensei que Arthur Aguiar tivesse interesse nisso quando vim trabalhar
aqui, mas parece que eu estava errado.
— É que ele e o pai não se entendem
muito bem. — Ela meneou a cabeça.—: Acho que ele herdará tudo um dia, mas agora
está apenas no ramo de peças e equipamentos. Duvido até que Arthur saiba o que
Eugene anda fazendo.
Ben disse algo baixinho para si mesmo e
tomou um gole de vinho. Por um minuto, pareceu distante, depois estudou o rosto
de Lua de novo.
— Acho que sua prima deve ter uma vida
bastante excitante. Ela costuma contar sobre suas andanças?
Algo parecia estranho naquela conversa,
mas Lua estava muito tonta por causa do vinho para prestar atenção ao fato.
— Nenhuma palavra, tudo parece coisa de
James Bond — ela riu, em sua simplicidade. — Mas Jenny tira estranhas fotos
das coisas. Fez um mapa geológico e algumas marcas nele. Depois de tanto
trabalho, o esqueceu em casa. Terei de colocá-lo no correio para ela amanhã.
Ben pareceu ficar animado.
— Mapa, hein? Eu adoraria ver um
verdadeiro mapa geológico.
— Não posso mostrá-lo — desculpou-se Lua,
sorrindo. — Jenny me mataria. Por que achou que eu estava tendo um caso com o
meu chefe? — perguntou em seguida, curiosa.
— Por nenhuma razão — Ben murmurou. — Só
pelo modo como ele a olhou outro dia. Mas há Karol Sartain, claro — lembrou
ele, sorrindo. — Acho que desta vez Arthur se amarrou. — Deu uma risadinha. —
Pelo que ouvi dizer, Karol não dorme com todo mundo por aí. Se algo acontecer,
Arthur terá de se casar; com ela. Aí está uma mulher de classe e muito inteligente.
Irá longe no mundo dos negócios. Eu a conheci há uns dois anos. Ela saía com um
tio meu.
Lua não tinha a menor vontade de falar
sobre Karol. Na verdade, sentia-sé tonta e enjoada. Ao empurrar o copo de
Vinho, viu que suas mãos tremiam. Era ridículo sentir-se tão triste e
aborrecida. Sabia que Arthur era um playboy e que estava saindo com Karol
havia semanas, e somente com ela. Por que deveria importar-se? Ben gostava
dela.
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