Capítulo 4 parte II
— Você está bem? — indagou Ben,
preocupado.
— Claro. O vinho me subiu à cabeça.
Desculpe. Não estou acostumada.
— Não tem problema. Eu a ajudo a voltar
para o escritório. Até a carrego até o elevador, se quiser.
— Você é um príncipe, Ben — disse Lua,
em tom gentil.
— Eu gostaria que o chefe me pagasse
como um deles — suspirou,Ben. — Os salários por aqui são bem baixos. Se estiver
pronta, podemos ir.
— Adorei o almoço — Lua comentou, sorrindo.
— Vamos almoçar juntos de novo —
prometeu Ben segurando-a firme pela cintura e guiando-a para fora do restaurante.
Ben levou-a ao escritório, sorrindo para
ela.
— Não o deixe aborrecê-la — sussurrou,
ao ouvir Arthur se movendo na outra sala. — Você tem mais de vinte e um anos.
Pode beber no almoço, se quiser.
— Posso, sim — concordou Lua. — Até mais
tarde. Obrigada mais uma vez.
Piscando, Ben saiu, fechando a porta
atrás de si. O ruído fez com que um preocupado e irritado Arthur saísse de sua
sala, olhando-a friamente.
— Você demorou — disse, por fim.
Ficara andando de um lado para outro,
maltratando as pessoas ao telefone. E ali estava Lua, que parecia ter sido afogada
em vinho por Ben. Teve um maü presságio sobre aquele almoço. Odiou-se por sentir
a possessividade tomando conta de si, o instinto protetor emergindo das
profundezas de seu ser. Nunca se sentira assim antes.
Fazia tempo que Lua não via o chefe
com ar tão intimidador. Ele era só
músculos e aqueles seus olhos azuis podiam derreter gelo, quando queriam. E era
precisamente o que estavam fazendo agora. Com os cabelos em desalinho, a expressão
dura de raiva, fazia Lua sentir-se pouquíssimo à vontade.
— Só são cinco para a uma — defendeu-se
ela, a voz meio pastosa. O vinho fizera com que seu rosto se tornasse vermelho
e Lua olhou-o, desafiadora. — Quantas pessoas neste prédio imaginam que durmo
com o senhor? — perguntou, ainda irritada pelas palavras de Ben durante o
almoço.
Arthur não podia ter ficado mais surpreso se alguém o tivesse estapeado.
no rosto.
— Como é que é? — perguntou ele.
— Ben pensou que o senhor dormia comigo!
Disse que o senhor tem uma grande experiência com suas secretárias,
Arthur olhou para a porta, com vontade
de esganar o funcionário.
— Maldito Ben! — exclamou, por fim. —
Vou quebrar o pescoço dele!
Com medo de que Arthur se referisse ao
presente momento, Lua se pôs na frente do chefe, arrependendo-se do que dissera.
Agora ele mataria Ben e ela iria presa como cúmplice.
— Não pode fazer isso — falou,
percebendo que a própria voz estava engraçada; pigarreou. — Não pode sair por
aí matando gente durante a hora do almoço — murmurou em tom conspiratório. —
Não haverá ninguém para limpar a bagunça.
A raiva desapareceu do rosto de Arthur
como por encanto e ele parou em frente dela, tão perto que Lua podia sentir seu
perfume. Cabe olhava para a secretária de modo sedutor, medindo-a de cima a
baixo, registrando a suave feminilidade que emanava dela.
— Não durmo com minhas secretárias. Como
você mesma já devia saber após dois anos. — E, dizendo isto, aproximou-se dela.
— Você está cheirando a vinho branco. Quantos copos tomou?
— Eu não cheiro — retrucou Lua,
indignada. — Só tomei um pequeno copão de vinho. — Aquilo soou engraçado e Lua
se pôs a rir. — Desculpe. — O riso sumiu ao ver a expressão séria do chefe. —
Um copão pequeno de vinho, eu quis dizer.
— Você não bebe, sua menina idiota —
falou Arthur, bravo.— É melhor você ir para casa.
— Não estou bêbada! Até posso andar em
linha reta… opa, desculpe — murmurou ela, quase caindo por cima dele. Arthur
segurou-a, fazendo-a suspirar. Lua pôs os braços em volta do pescoço forte,
enquanto ele a carregava para o sofá em sua sala, fechando a porta atrás deles.
Seu chefe era tão forte quanto Lua
imaginara. Olhou para o rosto dele fascinada, pois nunca estivera tão perto de
Arthur. Começou a lembrar-se do modo como ele beijara Karol, olhando com
tristeza para a boca de traços duros. Queria que Arthur se inclinasse e a
beijasse, como fizera com Karol, com a boca aberta…
Sentindo o olhar da secretária fixo em
seus lábios, Arthur queria gemer alto. Lua estava começando a ficar excitada.
Mas ele não podia tirar proveito da situação, apesar de ver que o leve vestido
mostrava os contornos do corpo feminino, pondo fogo em seu sangue.
— Que vai fazer comigo? — perguntou Lua,
com a voz rouca.
Arthur parou em frente ao sofá de couro.
— Não ponha idéias na minha cabeça. Vou
deitá-la aqui até que os efeitos do seu almoço passem. Vou fazer café.
— Não posso me deitar no seu escritório
— protestou Lua num fio de voz, enquanto Arthur a deitava.
— Por que não?
Maldito braço do sofá, pensou Arthur,
com ódio, pois deixava a cabeça de Lua bem no ângulo favorável para um beijo
ardente e carícias. Os lábios tentadores de sua secretária' estavam entreabertos,
convidativos como nunca.
— O senhor dorme com Karol? — perguntou
Lua, baixinho.
Era demais da conta. Passando a mão pelo
cabelo dela, Arthur começou a fazer-lhe afagos.
— Você não pode me fazer perguntas como
esta.
— Por que não? O senhor me diz todo o
tipo de coisas! Os olhos azuis passearam pelo corpo de Lua, relaxado no sofá,
percebendo as curvas que o vestido não escondia. Tinha vontade de despi-la e
possuí-la ali mesmo.
— Não durmo com Karol — declarou Arthur,
passando o braço pela cintura fina, segurando-a firme. — Você precisa de café.
— Devia lembrar-se de que ela era virgem e parar de pensar como seria aquela
pele nua em contato com a sua. — Vou fazer café agora mesmo.
— Por quê? — indagou Lua, os olhos
semicerrados, movendo-se languidamente no sofá.
— Porque, Deus me ajude… senão vou
possuí-la aqui mesmo, neste sofá. Agora, pare com isso!
E, dizendo isto, levantou-se e foi em
direção à cafeteira para preparar o café prometido. Seu corpo doía e latejava
de desejo pela secretária, mas o café resolveria o problema. Tudo estaria.a
salvo se ele conseguisse ficar sem olhar para Lua, deitada em sua sala.
Lua suspirou fundo, mexendo-se, os olhos
fixos no homem que fazia café. Sentia-se bem, a alma leve. Parecia não ter ossos.
Nada mais importava. Cantarolava para si mesma, levantando uma das pernas,
fazendo o vestido fino escorregar para cima. Até que suas pernas não eram de
todo más, pensou, mesmo que não fossem ganhar um concurso de beleza.
O café já estava quase pronto e Arthur
virou-se para Lua no exato momento em que o vestido escorregou de modo provocante.
Nunca vira nada tão adorável e não podia culpar Ben por querer sair com ela. O
milagre era que a tivesse trazido de volta. Lua estava linda e sensual com o
vestido que lhe revelava todas as curvas. Ficava realmente estonteante quando
vestia algo apropriado e não as roupas de velha que usava para ir trabalhar.
Percebendo o olhar do chefe, Lua ajeitou
a saia, cobrindo as pernas. Arthur nunca a olhara daquele jeito antes. Mas, mesmo
sob o efeito do álcool, sabia que não podia encorajá-lo daquele modo. Arthur
era um playboy e ela não nascera para ter um caso de uma noite.
Suspirando, virou-se para o outro lado e
fechou os olhos.
Por que Ben a fizera beber daquele
jeito?, perguntava-se Arthur, desorientado. Seu gerente de vendas andava
estranho ultimamente. E comprara um Jaguar novo. Arthur conhecia a situação
financeira do funcionário e sabia que Ben não podia se dar ao luxo de ter um
carro daqueles com o salário que recebia da Aguiar Equipamentos. Olhou para a
secretária, deitada languidamente em sua sala, dando graças a Deus por o dia,
não ser muito atribulado. Atendera duas chamadas telefônicas e olhara a sala
de espera para ver se havia algum cliente.
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