terça-feira, 13 de agosto de 2013

Além da Pureza (Adaptada)


Capítulo 3 parte final.

As sobrancelhas da prima mais velha se arquearam ao ver que Lua oferecia um prato com bolo em vez do presunto.
— Lu, isto não é presunto.
— É minha vida aborrecida que me enlouquece — suspi­rou Lua. — Talvez eu precise beijar Norman para ver se ele se transforma num príncipe — disse, estendendo o prato com presunto para a prima.
— Isso só acontece com sapos, não com iguanas — corrigiu-a Jenny. —Mas bem que um príncipe na sua vida não seria mau. Um príncipe alto, bonitão, que a tratasse como prince­sa. Você.ficaria bem numa bela casa e cercada de filhos.
— Nós sempre sonhamos com isto, lembra-se? — Lua sor­riu com as lembranças, enquanto esquentava quiche de espi­nafre para Norman.
Ao olhar para a prima, viu que esta tinha um ar preocupa­do e triste.
— Jenny, algo errado?
— Nada. Só estou cansada. Não há nada de errado. Como vão tio Rob e tia Helen? —indagou, querendo mudar de assunto.
— Mamãe e papai estão ótimos — respondeu Lua, relu­tante. Estava mesmo preocupada com a prima. — Estão or­ganizando um programa para jovens no Missouri. Pretendem reunir adolescentes que estejam envolvidos com drogas, para recuperá-los. Disseram que sua mãe está aprendendo a dan­çar o break.
Jenny riu gostosamente.
— Assim ela me disse numa carta. Espero que ela não que­bre nada dançando. Puxa, Lu, você não imagina como é bom estar em casa — suspirou Jenny. — Mesmo que seja por uma noite só.
E foi quase uma noite. Quando Lua acordou no dia seguin­te, a prima já tinha ido embora. Sua cama estava feita, e ha­via um bilhete dizendo que tivera de pegar um vôo bem cedo e que assim que pudesse escreveria.
Lua deu algumas bananas e o resto do quiche para Norman e saiu, preocupada. Algo estava acontecendo com sua pri­ma. Algo de estranho, a julgar pela expressão de Jenny.
Jenny trabalhava naquele projeto havia meses. Sua mãe, a tia Doris, bem como os pais de Lua, ficaram preocupados quando Jenny aceitara o cargo. Mas Jenny parecia estar ado­rando a cada minuto.
Só que ninguém sabia ou entendia o que exatamente Jenny fazia. E talvez fosse melhor assim.
O dia foi bastante trabalhoso no escritório, que ficou cheio de gente todo o tempo, não deixando que Lua passasse um só segundo a sós com seu perturbador chefe.
Depois do dia anterior, ela não tinha a intenção de ficar mui­to perto dele. Havia sido tola em deixá-lo chegar tão perto a ponto de quase se beijarem, deixando-o perceber quão vulne­rável ela era.
Na hora do almoço, Lua pegou a bolsa para ir buscar co­mida chinesa num restaurante próximo. Normalmente almo­çava com alguma colega, mas, ultimamente, parecia que todos estavam muito ocupados.
— Quer alguma coisa do restaurante chinês? — perguntou Lua ao chefe com polidez.
— Não, obrigado — foi a resposta com indiferença força­da. — Vou levar Karol para almoçar. Lua?
Eliza virou-se, feliz por notar que ele usara seu apelido,
— Pois não!
Os olhos castanhos passeavam por seu corpo, admirando o ves­tido de crepe cinza que ela usava.
— Esteve muito quieta hoje.
— É que quase não dormi ontem à noite.
— Por que não?
Arthur não tinha o direito de perguntar, mas a resposta veio, automática.
— Tive companhia. Quer dizer, só até o amanhecer — explicou Lua, perguntando-se o quanto deveria revelar sobre a prima.
A reação de Arthur foi quase cômica. Ele ficou pálido.
Levantou-se. Sua expressão foi da surpresa para a raiva ge­nuína, em questão de segundos.
— Pensei que casos de uma noite não fizessem seu gênero.
— Casos de uma noite… Ah, e não fazem mesmo — res­pondeu ela, entendendo a confusão. — Não era homem. Era minha prima Jenny.
Arthur fez um estranho gesto, percebendo que a pergunta não deveria ter sido feita e muito menos respondida. Seus olhares se fixaram um no outro, uma doce eletricidade passou por eles. O sorriso no rosto de Lua desapareceu e ela sentiu seu cora­ção aos pulos. Via os músculos saltarem no queixo proemi­nente do chefe, como se ele estivesse lutando para se controlar.
Na verdade, estava lutando mesmo. Mas, antes que pudes­se se mover ou falar, Karol entrou no escritório, usando um vestido colorido, com um lenço combinando, preso nos cabelos.
Foi nesse instante que Arthur decidiu que era preciso mos­trar a Lua que ela nada significava para ele, pelo próprio bem dela. Podia magoá-la muito se deixasse as coisas andarem do jeito que estavam indo. Não podia se dar ao luxo de se envol­ver com uma virgem inocente que nada sabia da vida ou dos homens. E não havia outro modo de fazer isso. Indo em dire­ção a Karol, abraçou-a e beijou-a com volúpia e paixão, bem na frente da chocada secretária.
— É melhor eu ir andando — gaguejou Lua, saindo, sem que ninguém notasse.
No caminho todo até o restaurante, não conseguia afastar a cena da cabeça e não podia entender o porque. Arthur, com aquela linda mulher em seus braços, atacando violentamente a boca da moça, apertando-a contra si.
Lua tinha vontade de chorar ao lembrar-se, imaginando como seria se fosse ela quem estivesse nos braços do chefe.
Precisava parar com isso, disse a si mesma. Estava deixan­do que o charme do chefe a cegasse por completo. Karol era apenas uma conquista, como todas as outras, e seus pais no Missouri não a tinham criado para ser mais um número de telefone na agenda de um homem.
Deliberadamente demorou para voltar ao escritório, a fim de não encontrar o chefe agarrado à loira oxigenada, como a chamara Eugene.
Estava sentada à sua mesa, degustando o Moo Goo Gai Pan que comprara, quando Ben Meadows apareceu à porta, com sua cabeça loira, sorrindo para ela.
— Está sozinha? — murmurou, brincalhão. — Despro­tegida?
— Não, realmente — respondeu Lua, com um sorriso ma­licioso. — Estou armada! — exclamou, mostrando os palitinhos.
— Você não atacaria de verdade um gerente de vendas tra­balhador, atacaria?
Lua meneou a cabeça, fazendo que não.
— Quer um pouco de Moo Goo?
Ben fez uma careta.
— Não como uma coisa com esse nome horrível.
— E só frango com legumes e molho oriental. Está delicioso.
— Foi o que me disseram sobre quiche de espinafre. De qual­quer modo, que tal um almoço num restaurante bem caro re­gado a vinho branco e com sobremesas que engordem bastante? Por minha conta.
Lua estudou-o com curiosidade. Ele não era nada mau e era mais novo do que Arthur. Um ótimo rapaz, sério, que nun­ca corria atrás de mulheres e que nunca estava envolvido em problemas. Gostava dele, apesar de não conhecê-lo socialmente. Não por falta de esforço da parte dele: sempre a convidava para sair e Lua sempre se recusava. Mas como Arthur dissera que se recusava a sair com Ben por ter uma queda por ele, desta vez iria aceitar.
— Eu adoraria — respondeu Lua, sorrindo. — Mas já es­tou quase terminando.
— Amanhã — disse Ben, rapidamente, temendo que ela não mais aceitasse. — Que tal amanhã?
— Eu adoraria, Ben. Obrigada.
— Ótimo… Eu… oh, não — gemeu ele. —Espere um mi­nuto, amanhã não posso, estou fora até quarta-feira. Que tal na quinta? — Ben alterou o convite, esperançoso.
Lua sorriu.
— Está ótimo.
Ben sorriu, satisfeito. Os astros lá em cima estavam cola­borando.                                                                      
— Então, está certo. Fica para quinta-feira. Iremos a um restaurante chique. Portanto, capriche no vestido, certo?
— Certo.
Ben foi embora assobiando, todo satisfeito, enquanto Lua terminava sua refeição, esperando não ter agido mal. Ben trabalhava para a empresa havia apenas dois meses, mas pa­recia ser boa pessoa e seria bom sair com ele para variar.
Arthur só retornou após as duas e meia, com o cabelo todo revolto. Era evidente que não tinha sido apenas um almoço. Elisa olhou-o e voltou ao trabalho. Nada tinha a ver com a vida pessoal do chefe, mas ficara desgostosa ao ver a aparên­cia dele, apesar de tentar camuflar a dor que sentira.
Arthur  percebeu a mágoa nos olhos cinzentos, ficando satis­feito por conseguir seu intento. Desarrumara o cabelo de pro­pósito, mas apenas almoçara com Karol. Queria que a secretária se desiludisse logo, e seria bom para ela.
Ao ver a expressão de Lua, soubera que dera certo.
Lua era uma boa moça e merecia mais, muito mais do que ele podia oferecer. Tinha uma espécie de acordo com Karol, que também não queria saber de envolvimentos sérios. Saíam juntos para se protegerem.
E graças a Deus não ficaria mais tentado com Lua. Não percebia o quanto a desejava. A cena no carro e no escritório tinha sido um engano que não mais poderia se repetir.
Lua entendera o recado, pois saíra às cinco horas em pon­to, sem sequer se despedir.
Em casa, sozinha, assistindo televisão, ela falava com Norman:
— Não acho que iguanas se transformem em príncipes — suspirou olhando para o réptil em cima do aquecedor. — Mes­mo que você fosse um príncipe encantado, eu não o beijaria. Apesar de que prefiro beijar você a beijar o sr. Aguiar. Pelo menos eu sei onde você andou.
Lua não conseguiu dormir direito aquela noite, pensando no abraço apertado e no beijo que o chefe dera na loira oxige­nada na sua frente. Pensava também no "almoço" que teriam tido depois daquele abraço sensual.
A única coisa que a animava um pouco era a perspectiva de almoçar com Ben no dia seguinte. Isso mostraria ao chefe que não estava morta de amores por ele.
A manhã toda notara que o chefe a examinava com o olhar, sem nada dizer. Vestira-se com esmero a pedido de Ben, pois sabia que iriam almoçar num lugar fino. Deixara o cabelo cas­tanho solto em ondas e usara rimei nos cílios. Pusera um ba­tom levemente avermelhado e sapatos de salto alto, que realçavam o formato de suas pernas bem-feitas.
Arthur mal conseguira tirar os olhos dela a manhã toda, o que deixara Lua satisfeita e divertida.
Arthur Aguiar saiu de sua sala bem na hora em que Ben che­gou para buscar Lua para o almoço.
— Precisa de algo, Ben? — perguntou em tom firme, não gostando do olhar que o gerente de vendas dirigia a sua se­cretária.
— Não, Arthur. Vim buscar Lua para almoçarmos juntos — respondeu Ben, satisfeito, sem notar o ódio do chefe. — Eu a trago de volta antes de uma hora, prometo. Vamos, Lua?
Arthur ficou rígido, olhando a cena, a mente num torvelinho. Inadvertidamente jogara Lua nos braços de Ben Meadows. E sabia de coisas sobre ele que Lua nem suspeitava. Pegou um cinzeiro e jogou-o longe, soltando uma imprecação. Pre­cisava remediar a situação, mas como?
Suspirou, bravo consigo mesmo. A vida era simples até que beijara a secretária no dia de Natal. Seu corpo ficara preso de um encanto, desde então. Queria experimentar mais, e não sossegava com os pensamentos. Para piorar a situação, seu pai ficava falando sobre ela o tempo todo.
Sentia-se culpado, pois sabia que Lua jamais sairia com Ben se não tivesse sido provocada por ele próprio. Mas suas intenções tinham sido as melhores possíveis quando agarrara Karol no escritório daquele jeito na frente de Lua. Não era seu estilo seduzir virgens.
Só que Ben não ficaria tão preocupado com a castidade de Lua. Não iria se preocupar se ela fosse virgem ou não.
Os olhos de Arthur enfureceram-se enquanto via cenas se de­senrolarem a sua frente, sonhando acordado.
Ben não iria abandonar Lua sozinha e grávida, nem que Arthur tivesse de lhe apontar uma arma e o obrigasse a casar com ela. Mas aí Lua viveria infeliz, com um marido que se vira coagido a desposá-la. Não, isso não daria certo, pensava Arthur.
Ele mesmo teria de cuidar da situação. Apertou os lábios, pensando numa menininha correndo pelo jardim. Compraria coisas para ela. Ou, se fosse menino, poderia iniciá-lo nos ne­gócios do petróleo. Um menininho seria ótimo…
— …eu perguntei se o senhor prefere que o sr. Samples ligue de volta ou se vai atender a ligação — dizia de modo edu­cado a secretária de Ben, da porta.
O sorriso desapareceu dos lábios de Arthur. O sonho de ter uma família com Lua, adotando seu filho ou filha, desvaneceu-se como uma bolha de sabão.
Pigarreando, respondeu à moça:
— Desculpe. Eu atendo a ligação. —E entrou em sua sala, pensativo.
Ainda bem que o filho de Lua era apenas uma fantasia, pensou ao pegar o fone. Ele não tinha tempo para brincar com crianças agora.

E aí, estão gostando? Comentem, poxa, assim não dá pra saber... Se ninguém ler, a web sera excluída, concordam?

2 comentários:

  1. Ai qual é a desse Ben em?
    Curiosa!!!!
    Você não caso postar as outras webs nao!
    To morrendo de saudade da web luar Parece Estar Escrito!

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  2. +++++++++++++++++++ please

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