Capítulo 3 parte final.
As
sobrancelhas da prima mais velha se arquearam ao ver que Lua oferecia um prato
com bolo em vez do presunto.
—
Lu, isto não é presunto.
—
É minha vida aborrecida que me enlouquece — suspirou Lua. — Talvez eu precise
beijar Norman para ver se ele se transforma num príncipe — disse, estendendo o
prato com presunto para a prima.
—
Isso só acontece com sapos, não com iguanas — corrigiu-a Jenny. —Mas bem que um
príncipe na sua vida não seria mau. Um príncipe alto, bonitão, que a tratasse
como princesa. Você.ficaria bem numa bela casa e cercada de filhos.
—
Nós sempre sonhamos com isto, lembra-se? — Lua sorriu com as lembranças,
enquanto esquentava quiche de espinafre para Norman.
Ao
olhar para a prima, viu que esta tinha um ar preocupado e triste.
—
Jenny, algo errado?
—
Nada. Só estou cansada. Não há nada de errado. Como vão tio Rob e tia Helen?
—indagou, querendo mudar de assunto.
—
Mamãe e papai estão ótimos — respondeu Lua, relutante. Estava mesmo preocupada
com a prima. — Estão organizando um programa para jovens no Missouri.
Pretendem reunir adolescentes que estejam envolvidos com drogas, para
recuperá-los. Disseram que sua mãe está aprendendo a dançar o break.
Jenny
riu gostosamente.
—
Assim ela me disse numa carta. Espero que ela não quebre nada dançando. Puxa,
Lu, você não imagina como é bom estar em casa — suspirou Jenny. — Mesmo que
seja por uma noite só.
E
foi quase uma noite. Quando Lua acordou no dia seguinte, a prima já tinha ido
embora. Sua cama estava feita, e havia um bilhete dizendo que tivera de pegar
um vôo bem cedo e que assim que pudesse escreveria.
Lua
deu algumas bananas e o resto do quiche para Norman e saiu, preocupada. Algo
estava acontecendo com sua prima. Algo de estranho, a julgar pela expressão de
Jenny.
Jenny
trabalhava naquele projeto havia meses. Sua mãe, a tia Doris, bem como os pais
de Lua, ficaram preocupados quando Jenny aceitara o cargo. Mas Jenny parecia
estar adorando a cada minuto.
Só
que ninguém sabia ou entendia o que exatamente Jenny fazia. E talvez fosse
melhor assim.
O
dia foi bastante trabalhoso no escritório, que ficou cheio de gente todo o
tempo, não deixando que Lua passasse um só segundo a sós com seu perturbador
chefe.
Depois
do dia anterior, ela não tinha a intenção de ficar muito perto dele. Havia
sido tola em deixá-lo chegar tão perto a ponto de quase se beijarem, deixando-o
perceber quão vulnerável ela era.
Na
hora do almoço, Lua pegou a bolsa para ir buscar comida chinesa num
restaurante próximo. Normalmente almoçava com alguma colega, mas, ultimamente,
parecia que todos estavam muito ocupados.
—
Quer alguma coisa do restaurante chinês? — perguntou Lua ao chefe com polidez.
—
Não, obrigado — foi a resposta com indiferença forçada. — Vou levar Karol para
almoçar. Lua?
Eliza
virou-se, feliz por notar que ele usara seu apelido,
—
Pois não!
Os
olhos castanhos passeavam por seu corpo, admirando o vestido de crepe cinza
que ela usava.
—
Esteve muito quieta hoje.
—
É que quase não dormi ontem à noite.
—
Por que não?
Arthur
não tinha o direito de perguntar, mas a resposta veio, automática.
—
Tive companhia. Quer dizer, só até o amanhecer — explicou Lua, perguntando-se o
quanto deveria revelar sobre a prima.
A
reação de Arthur foi quase cômica. Ele ficou pálido.
Levantou-se.
Sua expressão foi da surpresa para a raiva genuína, em questão de segundos.
—
Pensei que casos de uma noite não fizessem seu gênero.
—
Casos de uma noite… Ah, e não fazem mesmo — respondeu ela, entendendo a
confusão. — Não era homem. Era minha prima Jenny.
Arthur
fez um estranho gesto, percebendo que a pergunta não deveria ter sido feita e
muito menos respondida. Seus olhares se fixaram um no outro, uma doce
eletricidade passou por eles. O sorriso no rosto de Lua desapareceu e ela
sentiu seu coração aos pulos. Via os músculos saltarem no queixo proeminente
do chefe, como se ele estivesse lutando para se controlar.
Na
verdade, estava lutando mesmo. Mas, antes que pudesse se mover ou falar, Karol
entrou no escritório, usando um vestido colorido, com um lenço combinando,
preso nos cabelos.
Foi
nesse instante que Arthur decidiu que era preciso mostrar a Lua que ela nada
significava para ele, pelo próprio bem dela. Podia magoá-la muito se deixasse
as coisas andarem do jeito que estavam indo. Não podia se dar ao luxo de se
envolver com uma virgem inocente que nada sabia da vida ou dos homens. E não
havia outro modo de fazer isso. Indo em direção a Karol, abraçou-a e beijou-a
com volúpia e paixão, bem na frente da chocada secretária.
—
É melhor eu ir andando — gaguejou Lua, saindo, sem que ninguém notasse.
No
caminho todo até o restaurante, não conseguia afastar a cena da cabeça e não
podia entender o porque. Arthur, com aquela linda mulher em seus braços,
atacando violentamente a boca da moça, apertando-a contra si.
Lua
tinha vontade de chorar ao lembrar-se, imaginando como seria se fosse ela quem
estivesse nos braços do chefe.
Precisava
parar com isso, disse a si mesma. Estava deixando que o charme do chefe a
cegasse por completo. Karol era apenas uma conquista, como todas as outras, e
seus pais no Missouri não a tinham criado para ser mais um número de telefone
na agenda de um homem.
Deliberadamente
demorou para voltar ao escritório, a fim de não encontrar o chefe agarrado à
loira oxigenada, como a chamara Eugene.
Estava
sentada à sua mesa, degustando o Moo Goo Gai Pan que comprara, quando Ben
Meadows apareceu à porta, com sua cabeça loira, sorrindo para ela.
—
Está sozinha? — murmurou, brincalhão. — Desprotegida?
—
Não, realmente — respondeu Lua, com um sorriso malicioso. — Estou armada! —
exclamou, mostrando os palitinhos.
—
Você não atacaria de verdade um gerente de vendas trabalhador, atacaria?
Lua
meneou a cabeça, fazendo que não.
—
Quer um pouco de Moo Goo?
Ben
fez uma careta.
—
Não como uma coisa com esse nome horrível.
—
E só frango com legumes e molho oriental. Está delicioso.
—
Foi o que me disseram sobre quiche de espinafre. De qualquer modo, que tal um
almoço num restaurante bem caro regado a vinho branco e com sobremesas que
engordem bastante? Por minha conta.
Lua
estudou-o com curiosidade. Ele não era nada mau e era mais novo do que Arthur.
Um ótimo rapaz, sério, que nunca corria atrás de mulheres e que nunca estava
envolvido em problemas. Gostava dele, apesar de não conhecê-lo socialmente. Não
por falta de esforço da parte dele: sempre a convidava para sair e Lua sempre
se recusava. Mas como Arthur dissera que se recusava a sair com Ben por ter uma
queda por ele, desta vez iria aceitar.
—
Eu adoraria — respondeu Lua, sorrindo. — Mas já estou quase terminando.
—
Amanhã — disse Ben, rapidamente, temendo que ela não mais aceitasse. — Que tal
amanhã?
—
Eu adoraria, Ben. Obrigada.
—
Ótimo… Eu… oh, não — gemeu ele. —Espere um minuto, amanhã não posso, estou
fora até quarta-feira. Que tal na quinta? — Ben alterou o convite, esperançoso.
Lua
sorriu.
—
Está ótimo.
Ben
sorriu, satisfeito. Os astros lá em cima estavam colaborando.
—
Então, está certo. Fica para quinta-feira. Iremos a um restaurante chique.
Portanto, capriche no vestido, certo?
—
Certo.
Ben
foi embora assobiando, todo satisfeito, enquanto Lua terminava sua refeição,
esperando não ter agido mal. Ben trabalhava para a empresa havia apenas dois
meses, mas parecia ser boa pessoa e seria bom sair com ele para variar.
Arthur
só retornou após as duas e meia, com o cabelo todo revolto. Era evidente que não
tinha sido apenas um almoço. Elisa olhou-o e voltou ao trabalho. Nada tinha a
ver com a vida pessoal do chefe, mas ficara desgostosa ao ver a aparência
dele, apesar de tentar camuflar a dor que sentira.
Arthur
percebeu a mágoa nos olhos cinzentos,
ficando satisfeito por conseguir seu intento. Desarrumara o cabelo de propósito,
mas apenas almoçara com Karol. Queria que a secretária se desiludisse logo, e
seria bom para ela.
Ao
ver a expressão de Lua, soubera que dera certo.
Lua
era uma boa moça e merecia mais, muito mais do que ele podia oferecer. Tinha
uma espécie de acordo com Karol, que também não queria saber de envolvimentos
sérios. Saíam juntos para se protegerem.
E
graças a Deus não ficaria mais tentado com Lua. Não percebia o quanto a
desejava. A cena no carro e no escritório tinha sido um engano que não mais
poderia se repetir.
Lua
entendera o recado, pois saíra às cinco horas em ponto, sem sequer se
despedir.
Em
casa, sozinha, assistindo televisão, ela falava com Norman:
—
Não acho que iguanas se transformem em príncipes — suspirou olhando para o
réptil em cima do aquecedor. — Mesmo que você fosse um príncipe encantado, eu
não o beijaria. Apesar de que prefiro beijar você a beijar o sr. Aguiar. Pelo
menos eu sei onde você andou.
Lua
não conseguiu dormir direito aquela noite, pensando no abraço apertado e no
beijo que o chefe dera na loira oxigenada na sua frente. Pensava também no
"almoço" que teriam tido depois daquele abraço sensual.
A
única coisa que a animava um pouco era a perspectiva de almoçar com Ben no dia
seguinte. Isso mostraria ao chefe que não estava morta de amores por ele.
A
manhã toda notara que o chefe a examinava com o olhar, sem nada dizer.
Vestira-se com esmero a pedido de Ben, pois sabia que iriam almoçar num lugar
fino. Deixara o cabelo castanho solto em ondas e usara rimei nos cílios.
Pusera um batom levemente avermelhado e sapatos de salto alto, que realçavam o
formato de suas pernas bem-feitas.
Arthur
mal conseguira tirar os olhos dela a manhã toda, o que deixara Lua satisfeita e
divertida.
Arthur
Aguiar saiu de sua sala bem na hora em que Ben chegou para buscar Lua para o
almoço.
—
Precisa de algo, Ben? — perguntou em tom firme, não gostando do olhar que o
gerente de vendas dirigia a sua secretária.
—
Não, Arthur. Vim buscar Lua para almoçarmos juntos — respondeu Ben, satisfeito,
sem notar o ódio do chefe. — Eu a trago de volta antes de uma hora, prometo.
Vamos, Lua?
Arthur
ficou rígido, olhando a cena, a mente num torvelinho. Inadvertidamente jogara Lua
nos braços de Ben Meadows. E sabia de coisas sobre ele que Lua nem suspeitava.
Pegou um cinzeiro e jogou-o longe, soltando uma imprecação. Precisava remediar
a situação, mas como?
Suspirou,
bravo consigo mesmo. A vida era simples até que beijara a secretária no dia de
Natal. Seu corpo ficara preso de um encanto, desde então. Queria experimentar
mais, e não sossegava com os pensamentos. Para piorar a situação, seu pai
ficava falando sobre ela o tempo todo.
Sentia-se
culpado, pois sabia que Lua jamais sairia com Ben se não tivesse sido provocada
por ele próprio. Mas suas intenções tinham sido as melhores possíveis quando
agarrara Karol no escritório daquele jeito na frente de Lua. Não era seu estilo
seduzir virgens.
Só
que Ben não ficaria tão preocupado com a castidade de Lua. Não iria se
preocupar se ela fosse virgem ou não.
Os
olhos de Arthur enfureceram-se enquanto via cenas se desenrolarem a sua frente,
sonhando acordado.
Ben
não iria abandonar Lua sozinha e grávida, nem que Arthur tivesse de lhe apontar
uma arma e o obrigasse a casar com ela. Mas aí Lua viveria infeliz, com um
marido que se vira coagido a desposá-la. Não, isso não daria certo, pensava
Arthur.
Ele
mesmo teria de cuidar da situação. Apertou os lábios, pensando numa menininha
correndo pelo jardim. Compraria coisas para ela. Ou, se fosse menino, poderia
iniciá-lo nos negócios do petróleo. Um menininho seria ótimo…
—
…eu perguntei se o senhor prefere que o sr. Samples ligue de volta ou se vai
atender a ligação — dizia de modo educado a secretária de Ben, da porta.
O
sorriso desapareceu dos lábios de Arthur. O sonho de ter uma família com Lua,
adotando seu filho ou filha, desvaneceu-se como uma bolha de sabão.
Pigarreando,
respondeu à moça:
—
Desculpe. Eu atendo a ligação. —E entrou em sua sala, pensativo.
Ainda
bem que o filho de Lua era apenas uma fantasia, pensou ao pegar o fone. Ele não
tinha tempo para brincar com crianças agora.
E aí, estão gostando? Comentem, poxa, assim não dá pra saber... Se ninguém ler, a web sera excluída, concordam?
Ai qual é a desse Ben em?
ResponderExcluirCuriosa!!!!
Você não caso postar as outras webs nao!
To morrendo de saudade da web luar Parece Estar Escrito!
+++++++++++++++++++ please
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