sábado, 24 de agosto de 2013

Sussurro (adaptada)

                                           
       
Capitulo 2 parte 2



                                            
Argh.
“E a névoa sempre piora perto da sua casa,” Vee continuou.
“Me assusta depois de escuro.”
Eu agarrei as chaves.
“Muito obrigada.”
“Não me culpe. Diga a sua mãe para se mudar mais pra perto. Diga a ela que tem esse clube novo chamado civilização e que vocês deveriam se juntar.”
“Suponho que espera que eu te pegue antes da escola amanhã?”
“As sete e meia seria bom. Café da manhã por minha conta.”
“É melhor que seja bom.”
“Seja boazinha com o meu bebê.” Ela deu um tapinha no para-lama do Neon. “Mas não boazinha demais. Não posso fazê-la pensar que tem melhor aí fora.”
Na viagem para casa eu permiti que meus pensamentos fizessem uma pequena viagem para Thur.
Vee estava certa – algo sobre ele era incrivelmente sedutor. E incrivelmente sinistro. Quanto mais eu pensava sobre isso, mais eu estava convencida de que algo nele era... estranho. O fato dele gostar de me antagonizar não era exatamente digno de notícia, mas havia uma diferença entre me irritar durante a aula e possivelmente me seguir até a biblioteca para conseguir isso. Não são muitas as pessoas que se dariam a tanto trabalho... a não ser que tivessem uma boa razão.
Na metade do caminho para casa uma chuva incitou nuvens finas a cobrirem a estrada. Dividir minha atenção entre a estrada e os controles no volante, eu tentei localizar os limpadores.
As luzes da rua relinchavam acima e eu me perguntei se uma tempestade mais forte estava se aproximando. Tão perto assim do oceano o clima mudava constantemente, e uma pancada de chuva podia rapidamente se transformar em uma inundação.
Eu acelerei o Neon.
As luzes do lado de fora piscaram novamente. Um pressentimento gelado espetou a parte de trás do meu pescoço, e os pelos nos meus braços formigaram. Meu sexto sentido passou para um alerta máximo. Eu me perguntei se eu achava que estava sendo seguida. Não havia faróis no espelho retrovisor.
Nada de carros a frente, tampouco. Eu estava completamente sozinha. Não era um pensamento muito confortante. Eu acelerei o carro para setenta quilômetros.
Eu achei o limpador, mas mesmo na velocidade máxima eles não conseguiam manter o ritmo da chuva martelante. O sinaleiro a frente ficou amarelo.
Eu parei, chequei para ver se o tráfego estava vazio, então fui para a cruzamento.
Eu escutei o impacto antes de registrar a silhueta negra derrapando pelo capô do carro.
Eu gritei e pisei fundo no freio. A silhueta golpeou contra o para-brisa com uma explosão estilhaçante.
Em impulso, eu virei duramente o volante para a direita. O final do Neon desacelerou, mandando-me girando no cruzamento. A silhueta rolou e desapareceu pela beirada do capô.
Eu estava segurando minha respiração, apertando o volante entre minhas mãos de dobras brancas. Eu levantei meu pé dos pedais. O carro moveu-se rapidamente e parou.
Ele estava agachado a alguns metros, me observando. Ele não parecia nem um pouco... ferido.
Ele estava vestido totalmente de preto e misturava-se a noite, dificutando dizer como ele era. De primeira eu não consegui distinguir nenhum traço facial, e então eu percebi que ele estava usando uma máscara de esqui.
Ele ficou de pé, fechando a distância entre nós. Ele achatou suas palmas na janela do lado do motorista. Nossos olhos se conectaram através dos buracos na máscara. Um sorriso letal pareceu crescer nos dele.
Ele deu outro golpe, o vidro vibrando entre nós.
Eu dei partida no carro. Eu tentei sincronicamente colocá-lo na primeira marcha, empurrar o acelerador e soltar a embreagem. O motor entrou em movimento, mas o carro moveu-se rapidamente de novo e morreu.
Eu liguei o motor mais uma vez, mas fui distraída por um rosnado metálico desafinado. Eu observei com horror enquanto a porta começava a dobrar. Ele estava arrancando – ela – fora. Eu calquei o carro na primeira. Meus sapatos deslizaram por sobre os pedais.
O motor rugiu, a agulha de RPM13 no painel cravando na zona vermelha.
Seu punho passou pela janela numa explosão de vidro. Sua mão tateou meu ombro, fixando-se ao redor da minha mão. Eu dei um grito rouco, pisou com força no acelerador, e soltei a embreagem. O Neon guinchou em movimento. Ele segurou, apertando a minha mão, correndo ao lado do carro por diversos metros antes de soltar.
Eu acelerei para frente com a força da adrenalina. Eu chequei o espelho retrovisor para ter certeza de que ele não estava me perseguindo, então empurrei o espelho para encarar a distância. Eu tive que pressionar os meus lábios juntos para impedi-los de soluçar.
VOANDO POR HAWTHORNE, EU PASSEI PELA MINHA casa, dei a volta, cortei até Beech, e me dirigi de volta em direção ao centro de Coldwater. Eu disquei o número da Vee através da agenda eletrônica.
“Algo aconteceu – eu – ele – a coisa – do nada – o Neon –”
“Está falhando. O quê?”
Eu limpei meu nariz com as costas da minha mão. Eu estava tremendo até meus dedos do pé. “Ele surgiu do nada.”
“Quem?”
“Ele –” eu tentei prender meus pensamentos e canalizá-los em palavras. “Ele pulou na frente do carro!”
“Ai, cara. Ai-cara-ai-cara-ai-cara. Você acertou um veado? Você está bem? E o Bambi?” Ela meio choramingou, meio gemeu. “O Neon?”
Eu abri minha boca, mas Vee me cortou.
“Esquece. Eu tenho seguro. Só me diga que não tem pedaços de veado em todo o meu bebê... Nada de pedaços de veado, certo?”
Qualquer resposta que eu estive prestes a dar se dissipou no plano de fundo. Minha mente estava dois passos na frente. Um veado. Talvez eu conseguisse fazer o negócio todo parecer com uma batida em um veado. Eu queria me confidenciar na Vee, mas eu não queria soar louca, tampouco. Como eu ia explicar assistir ao cara que eu tinha atingido se levantar e começar a arrancar a porta do carro? Eu estiquei meu colarinho para baixo do meu ombro. Nenhuma marca vermelha onde ele tinha me agarrado, que eu conseguisse ver...
Eu me dei conta de mim mesma com assombro. Eu realmente estava considerando negar o que tinha acontecido? Eu sabia o que eu tinha visto. Não foi a minha imaginação.
“Santa bizarrice,” Vee disse. “Você não está respondendo. O veado está preso nos faróis, não está? Você está dirigindo por aí com ele travado na frente do carro como um trator para evacuar neve.”
“Posso dormir na sua casa?” Eu queria sair das ruas. Sair da escuridão. Com uma inspiração súbita de ar, eu percebi que para ir para a casa da Vee, eu teria que dirigir de volta pelo cruzamento onde eu tinha atingido-o.
“Eu estou no meu quarto,” disse Vee. “Pode entrar. Te vejo daqui a pouco.”
Com as minhas mãos apertadas no volante, eu empurrei o Neon pela chuva, rezando para que o sinal em Hawthorne estivesse verde em meu favor. Estava, e eu ladrilhei pelo cruzamento, mantendo meus olhos diretamente a frente, mas ao mesmo tempo, roubando olhadelas para as sombras ao lado da estrada. Não havia sinal do cara de máscara de esqui.
Dez minutos mais tarde eu estacionei o Neon na entrada da Vee. O dano à porta era extensivo, e eu tive que colocar meu pé nela e chutar para conseguir sair. Então eu corri para a porta da frente, escapuli para dentro, e corri pela escada do porão.
Vee estava sentada de pernas cruzadas em sua cama, o caderno apoiado em seus joelhos, os fones enfiados, o iPod ligado no máximo. “Eu quero ver o dano hoje a noite, ou devo esperar até ter pelo menos tido sete horas de sono?” ela disse por cima da música.
“Talvez a opção número dois.”
Vee fechou o caderno e tirou os fones. “Vamos acabar com isso logo.”
Quando fomos para fora, eu encarei o Neon por um longo tempo. Não era uma noite quente, mas o tempo não era a causa dos arrepios ondulando nos meus braços. Nada de janela do lado do motorista quebrada. Nada de amasso na porta.
“Algo não está certo,” eu disse. Mas Vee não estava escutando. Ela estava ocupada inspecionando cada centímetro quadrado do Neon.
Eu dei um passo para frente e cutuquei a janela do lado do motorista. Vidro sólido. Eu fechei meus olhos. Quando eu os reabri, a janela ainda estava intacta.
Eu dei uma volta pela traseira do carro. Eu tinha quase completado uma volta inteira quando eu parei de imediato.
Uma fina rachadura no para-brisa.
Vee a viu ao mesmo tempo. “Tem certeza de que não foi um esquilo?”
Minha mente relampejou de volta para os olhos letais atrás da máscara de esqui. Eles eram tão negros que eu não conseguia distinguir as pupilas das íris. Negros como... os de Thur.
“Olhe para mim, estou chorando lágrimas de alegria,” Vee disse, esparramando-se sobre o capô do Neon em um abraço. “Uma rachadura minusculinha. Só isso!”
Eu fabriquei um sorriso, mas meu estômago azedou-se. Há cinco minutos, a janela estava quebrada e a porta estava curvada. Olhando para o carro agora, parecia impossível. Não, parecia loucura. Mas eu vi o punho dele dar um soco no vidro, e eu senti as unhas dele mordiscarem meu ombro.
Não tinha?
Quanto mais eu tentava relembrar da batida, mais eu não conseguia. Pequenas manchas de informação perdida cruzavam minha memória. Os detalhes estavam se dissipando. Ele era alto? Baixo? Magro? Grande? Ele tinha dito alguma coisa?
Eu não conseguia me lembrar. Essa era a parte mais assustadora.
Vee e eu deixamos sua cama as sete e quinze na manhã seguinte e dirigimos até o Enzo’s Bistro para tomar de café da manhã leite fervido. Com minhas mãos encaixadas ao redor da minha xícara de porcelana, eu tentei aquecer o frio profundo dentro de mim. Eu tinha tomado banho, colocado uma veste de baixo e um cardigã emprestados do armário da Vee, e posto um pouco de maquiagem, mas eu mal lembrava de ter feito isso.
“Não olhe agora,” Vee disse. “mas o Sr. Suéter Verde fica olhando para cá, estimando suas longas pernas pela sua calça jeans... Ah! Ele acabou de me saudar. Não estou brincando. Uma saudaçãozinha militar de dois dedos. Que adorável.”
Eu não estava escutando. O acidente da noite passada tinha repassado inteiramente na minha cabeça a noite toda, perseguindo qualquer chance de sono. Meus pensamentos estavam embaralhados, meus olhos estavam secos e pesados, e eu não conseguia me concentrar.
“O Sr. Suéter Verde parece normal, mas o companheiro dele parece um bad boy da pesada,” disse Vee. “Emite um certo sinal não-mexa-comigo. Diz que ele não parece com a cria do Drácula. Diz que eu estou imaginando coisas.”
Levantando meus olhos justamente o bastante para dar uma olhada nele sem parecer que eu estava, eu absorvi seu rosto lindo de ossos suaves. Cabelo loiro pairava em seus ombros. Olhos da cor de cromo. Barba por fazer. Impecavelmente vestido em uma jaqueta impecável e calça jeans escura de designer. Eu disse, “Você está imaginando coisas.”
“Você deixou passar os olhos inexpressivos? A linha capilar em V? O porte alto e esbelto? Ele talvez até seja alto o bastante para mim.”
Vee tem quase 1,83 metros, mas ela tem uma quedinha por saltos. Saltos altos. Ela também tem uma regra sobre não namorar caras baixos.
“Está bem, qual o problema?” Vee perguntou. “Você ficou toda incomunicável. Isso não é por causa da rachadura no para-brisa, é? E daí que você atingiu um animal? Podia acontecer a qualquer um. Claro, as chances seriam muito menores se a sua mãe se mudasse do mato.”
Eu ia contar a Vee a verdade sobre o que tinha acontecido. Em breve. Eu só precisava de um pouco de tempo para ordenar os detalhes. O problema era que eu não via como eu poderia. Os únicos detalhes sobrando eram assustadores, na melhor das hipóteses. Era como se uma borracha tivesse apagado a minha memória. Pensando de volta, eu me lembrava da chuva pesada caindo como cascata nas janelas do Neon, fazendo com que tudo ficasse borrado. Eu teria de fato atingido um veado?
“Hmm, dá uma olhada nisso,” disse Vee. “O Sr. Suéter Verde está saindo do seu assento. Agora, esse é um corpo que frequenta a academia regularmente. Ele definitivamente está caminhando na nossa direção, seus olhos procurando a propriedade, a sua propriedade, isso é.”
Uma meia batida mais tarde, fomos cumprimentadas por um baixo e agradável, “Olá.”
Vee e eu olhamos para cima ao mesmo tempo. O Sr. Suéter Verde estava atrás da nossa mesa, seus dedões presos nos bolsos de sua calça jeans. Ele tinha olhos azuis, com cabelo loiro estilosamente bagunçado arrastado em sua testa.
“Olá para você,” Vee disse. “Eu sou Vee. Esta é Lua blanco.”

Original de: Becca Fitzpatrick


Adaptada por: Millys



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