sábado, 24 de agosto de 2013

Sussurro (adaptada)

                                              


Capitulo 3



Eu franzi para Vee. Eu não apreciava ela anexando meu sobrenome, sentindo que isso violava um contrato não-verbal entre meninas, ainda mais melhores amigas, ao encontrar garotos desconhecidos. Eu dei um aceno indiferente e trouxe minha xícara aos meus lábios, imediatamente queimando minha língua.
Ele arrastou uma cadeira da mesa ao lado e se sentou de costas nela, seus braços descansando onde suas costas deveriam estar. Esticando uma mão para mim, ele disse, “Eu sou Elliot Saunders.” Sentindo-me formal demais, eu apertei-a. “E esse é Jules,” ele acrescentou, sacudindo seu queixo na direção de seu amigo, que Vee tinha subestimado grosseiramente ao chamar de “alto”.
Jules abaixou todo o seu eu em um assento ao lado de Vee, minimizando a cadeira.
Ela disse para ele, “Eu acho que você é o maior cara que eu já vi. Sério, quanto você mede?”
“Dois metros e oito,” Jules murmurou, tombando em seu assento e cruzando seus braços.
Elliot limpou sua garganta. “Posso pedir algo para as damas comerem?”
“Estou bem,” eu disse, levantando minha xícara. “Eu já pedi.”
Vee me chutou por debaixo da mesa. “Ela vai querer um sonho recheado de creme de baunilha. Na verdade, dois.”
“Lá se foi a dieta, hein?” eu perguntei a Vee.
“Hein para você. A fava de baunilha é uma fruta. Uma fruta marrom.”
“É um legume.”
“Você tem certeza disso?”
Eu não tinha.
Jules fechou seus olhos e apertou a ponte do seu nariz. Aparentemente ele estava tão animado de estar sentado conosco quanto eu estava de tê-los aqui.
Enquanto Elliot andava até o balcão frontal, eu deixei meus olhos arrastarem-se até ele. Ele definitivamente estava no ensino médio, mas eu não tinha visto ele na CHS antes. Eu me lembraria. Ele tinha uma personalidade charmosa e extrovertida que não se dissipava no plano de fundo. Se eu não estivesse me sentindo tão abalada, eu de fato poderia ter me interessado. Em amizade, talvez mais.
“Você mora por aqui?” Vee perguntou a Jules.
“Hmm.”
“Vai para escola?”
“Kinghorn Prep.” Havia uma matiz de superioridade no jeito como ele disse isso.
“Nunca ouvi falar.”
“Escola particular. Portland. Começamos as nove.” Ele levantou sua manga e olhou para seu relógio.
Vee mergulhou um dedo na espuma de seu leite e o lambeu. “É caro?”
Jules olhou para ela diretamente pela primeira vez. Seus olhos se esticaram, mostrando um pouco de branco ao redor das beiradas.
“Você é rico? Aposto que é,” ela disse.
Jules olhou Vee como se ela tivesse acabado de matar uma mosca na testa dele. Ele recuou sua cadeira várias centímetros, se distanciando de nós.
Elliot retornou com uma caixa com meia dúzia de sonhos.
“Dois de creme de baunilha para as damas,” ele disse, empurrando a caixa na minha direção, “e quatro com confeitos para mim. Acho que é melhor eu me encher agora, já que eu não sei como é a lanchonete na Coldwater High.”
Vee quase cuspiu seu leite. “Você frequenta a CHS?”
“A partir de hoje. Eu acabei de me transferir da Kinghorn Prep.”
“Lua e eu frequentamos a CHS,” Vee disse. “Espero que aprecie sua boa sorte. Qualquer coisa que precise saber – incluindo quem deve convidar para o Baile da Primavera – é só perguntar. Nora e eu não temos pares... ainda.”
Eu decidi que era hora de nos separarmos. Jules estava obviamente entediado e irritado, e ficar na companhia dele não estava ajudando o meu humor já impaciente. Eu fiz uma grande apresentação ao olhar no relógio do
meu celular e disse, “É melhor irmos para escola, Vee. Temos uma teste de biologia para o qual estudar. Elliot e Jules, foi bom conhecê-los.”
“Nosso teste de biologia não é até a sexta,” disse Vee.
Do lado de dentro, eu me contraio involuntariamente. Do lado de fora, eu sorrio descaradamente.
“Certo. Eu quis dizer teste de inglês. As obras de... Geoffrey Chaucer.” Todos sabiam que eu estava mentindo.
De um jeito remoto minha grosseria me incomodava, especialmente já que Elliot não tinha feito nada para merecer isso. Mas eu não queria ficar mais sentada aqui. Eu queria continuar me movendo, me distanciando da noite passada. Talvez a memória diminuindo não fosse uma coisa tão ruim afinal. Quanto mais cedo eu esquecesse o acidente, mais cedo minha vida voltaria ao seu ritmo normal.
“Espero que tenha um ótimo primeiro dia, e talvez vejamos você no almoço,” eu disse a Elliot. Então eu arrastei Vee por seu cotovelo e a dirigi porta afora.
O dia escolar estava quase acabando, somente biologia faltando, e após uma rápida parada no meu armário para trocar livros, eu me dirigi para aula. Vee e eu chegamos antes de Patch; ela deslizou no assento vazio dele e cavou em sua mochila, puxando uma caixa de Hot Tamales14.
14 Doce de
“Um, a fruta vermelha saindo já,” ela disse, oferecendo-me a caixa.
“Deixe-me advinhar... canela é uma fruta?” eu empurrei a caixa para longe.
“Você não almoçou, tampouco,” Vee disse, franzindo a testa.
“Não estou com fome.”
“Mentirosa. Você está sempre com fome. Isso tem a ver com Thur? Você não está preocupada que ele esteja realmente perseguindo você, está? Porque na noite passada, aquele negócio todo na biblioteca, eu estava brincando.”
Eu massageei círculos pequenos nas minhas têmporas. A dor maçante que tinha tomado residência atrás dos meus olhos resplandeceram na menção de Thur. “Thur é a última das minhas preocupações,” eu disse. Não era exatamente verdade.
“Meu assento, se não se importa.”
Vee eu olhamos para cima simultaneamente ao som da voz de Thur.  
Ele soava feliz o bastante, mas ele manteve seus olhos treinados na Vee enquanto ela se levantava e atirava sua mochila por seu ombro. Parecia que ela
não conseguia se mover rápida o bastante; ele passou seu braço pelo corredor, convidando-a para fora.
“Bonita como sempre,” ele disse para mim, tomando sua cadeira. Ele se reclinou, esticando suas pernas na sua frente. Eu sempre soubera que ele era alto, mas eu nunca tinha medido. Olhando para a extensão das pernas dele agora, eu pressupus que ele tivesse 1,83. Talvez até 1,85.
“Obrigada,” eu respondi sem pensar. Imediatamente eu quis retirar o que dissera. Obrigada? De todas as coisas que eu poderia ter dito, “obrigada” era a pior. Eu não queria que Thur pensasse que eu tinha gostado do elogio dele. Porque eu não tinha... na maior parte. Não precisava de muita percepção para perceber que ele era encrenca, e eu já tinha tido encrenca o bastante na minha vida. Não havia necessidade de convidar mais. Talvez se eu o ignorasse, ele eventualmente desistiria de puxar conversa. E então poderíamos sentar lado a lado em uma silenciosa harmonia, como todas as outras parcerias na sala.
“Você está cheirando bem também,” disse Thur.
“Chama-se banho.” Eu estava encarando diretamente a frente. Quando ele não respondeu, eu me virei de lado. “Sabonete. Shampoo. Água quente.”
“Pelada. Conheço o esquema.”
Eu abri minha boca para mudar de assunto quando o sinal me cortou.
“Coloquem seus livros de lado,” o Treinador disse de trás da sua mesa. “Vou dar um teste de treinamento para aquecê-los para o verdadeiro dessa sexta.” Ele parou na minha frente, lambendo seu dedo enquanto tentava separar os testes. “Eu quero quinze minutos de silêncio enquanto respondem as perguntas. Então discutiremos o capítulo sete. Boa sorte.”
Eu trabalhei nas primeiras questões, respondendo-as com uma efusão rítmica de fatos memorizados. Ao menos, o teste roubou minha concentração, empurrando o acidente da noite passada e a voz nos fundos da minha mente questionando a minha sanidade de lado. Parando para me livrar de uma câimbra da mão que escrevia, eu senti Thur se inclinar na minha direção.
“Você parece cansada. Noite difícil?” ele sussurrou.
“Eu te vi na biblioteca.” Tomei cuidado em deixar meu lápis deslizando por sobre o meu teste, parecendo concentrada no trabalho.
“O ponto alto da minha noite.”
“Você estava me seguindo?”
Ele reclinou sua cabeça e riu suavemente.
Eu tentei uma abordagem diferente.
“O que você estava fazendo lá?”
“Pegando um livro.”
Eu senti os olhos do Treinador em mim e me dediquei ao teste. Após responder mais diversas perguntas, eu roubei uma olhadela à minha esquerda. Eu fiquei surpresa ao encontrar Thur já me observando. Ele sorriu.
Meu coração deu um salto inesperado, assustado por esse sorriso bizarramente atraente. Para o meu horror, eu fiquei tão alarmada que derrubei meu lápis. Ele saltou pelo tampo da mesa algumas vezes antes de rolar pela beirada. Thur se inclinou para apanhá-lo. Ele o segurou na palma de sua mão, e eu tive que me concentrar para não tocar na pele dele enquanto eu o pegava.
“Depois da biblioteca,” eu sussurrei. “Para onde você foi?”
“Por quê?”
“Você me seguiu?” eu exigi baixinho.
“Você parece um tanto irritada, Nora. O que aconteceu?” Suas sobrancelhas se levantaram em preocupação. Era tudo apresentação, porque havia uma faísca derrisória no centro de seus olhos negros.
“Você está me seguindo?”
“Por que eu iria querer te seguir?”
“Responda a pergunta.”
“Lua.” O aviso na voz do Treinador me chamou de volta para o teste. Mas eu não conseguia evitar especular sobre qual teria sido a resposta dele, e ela me fez querer deslizar para longe de Thur. Para o outro lado da sala. Para o outro lado do universo.
O Treinador gorjeou seu apito. “O tempo acabou. Passem seus testes para frente. Esperem perguntas similares nessa sexta. Agora” – ele juntou suas mãos, e o som seco dele me fez estremecer –
 “para a lição de hoje. Senhorita Sky, quer declarar o nosso tópico?”
“S-e-x-o,” Vee anunciou.
Precisamente após ela ter anunciado, eu desliguei. Thur estava me seguindo? Era ele o rosto por trás da máscara de esqui – se houvesse mesmo um rosto por trás da máscara? O que ele queria? Eu abracei meus cotovelos, de repente me sentindo muito gelada. Eu queria que a minha vida voltasse a ser do jeito que era antes de Thur entrasse de supetão na minha vida.
Ao final da aula, eu impedi Thur de ir embora. “Podemos conversar?”
Ele já estava de pé, então ele se sentou na beirada da mesa. “O que foi?”
“Eu sei que você não quer se sentar perto de mim mais do que eu quero me sentar perto de você. Eu acho que o Treinador pode considerar mudar os nossos assentos se você falar com ele. Se você explicar a situação –”
“A situação?”
“Nós não somos – compatíveis.”
Ele esfregou uma mão em sua mandíbula, um gesto calculado ao qual eu tinha me acostumado nos poucos dias que eu o conhecia.
“Não somos?”
“Não estou anunciando notícias devastadoras aqui.”
“Quando o Treinador perguntou a minha lista de qualidades desejadas em uma companheira, eu dei você a ele.”
Minha boca caiu ligeiramente.
“Retire o que disse.”
“Inteligente. Atraente. Vulnerável. Você discorda?”
Ele estava fazendo isso com o único propósito de me antagonizar, e isso só me irritava mais. “Você vai pedir ao Treinador para mudar os nossos assentos ou não?”
“Passo. Me afeiçoei a você.”
O que eu devia dizer a isso? Ele estava obviamente mirando para conseguir uma reação de mim. O que não era difícil, já que eu nunca conseguia dizer quando ele estava brincando, e quando ele estava sendo sincero.
Eu tentei injetar uma medida de equanimidade na minha voz.
“Eu acho que você ficaria muito melhor sentado com outra pessoa. E acho que você sabe disso.” Eu sorri, tensa, mas educada.
“Acho que eu poderia acabar ao lado da Vee.” O sorriso dele parecia tão educado quando. “Não vou forçar a minha sorte.”
Vee apareceu do lado da nossa mesa, olhando entre mim e Thur. “Interrompendo algo?”
“Não,” eu disse, fechando a minha mochila com força. “Eu estava perguntando ao Thur sobre a leitura de hoje a noite. Eu não conseguia lembrar quais páginas o Treinador tinha passado.”
Vee disse,
“A lição está no quadro, como sempre. Como se você já não tivesse lido-a.”
Thur riu, parecendo dividir uma piada particular com ele mesmo. Não pela primeira vez, eu desejei saber o que ele estava pensando. Porque as vezes eu tinha certeza que essas piadas particulares tinham tudo a ver comigo.
“Algo mais, Lua?” ele disse.
“Não,” eu disse. “Vejo você amanhã.”
“Vou ficar esperando.” Ele piscou. Realmente piscou.
Após Thur estar fora de alcance, Vee agarrou meu braço. “Boas notícias. Cipriano. Esse é o sobrenome dele. Eu vi na lista de chamada do Treinador.”
“E isso é algo para se estar feliz porque...?”
“Todos sabem que os estudantes devem registrar remédios na enfermaria.” Ela puxou o bolso fronteiro da minha mochila, onde eu mantinha minhas pílulas de ferro. “Igualmente, todos sabem que a enfermaria está convenientemente
localizada no lado de dentro do escritório principal, onde, acontece, as fichas estudantis também são mantidas.”
Os olhos ardentes, Vee travou seu braço no meu e puxou-me na direção da porta. “Hora de fazer uma investigação de verdade.”



 Original de: Becca Fitzpatrick


Adaptada por: Millys

Um comentário:

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