quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Sussurro ( adaptada)



 Capitulo 3 parte 1


 “Posso ajudar” Eu me forcei a sorrir para a secretária do escritório principal, esperando não parecer tão desonesta quanto eu me sentia.
“Eu tenho uma receita que tomo diariamente na escola, e minha amiga –”
Minha voz ficou presa na palavra, e eu me perguntei se depois de hoje eu chamaria Vee de minha amiga novamente.
“– minha amiga me informou que eu tenho que registrá-la com a enfermeira. Você sabe se isso está correto?”
Eu não conseguia acreditar que estava parada aqui, pretendendo fazer algo ilegal. Ultimamente, eu estava exibindo muitos comportamentos não-característicos. Primeiro eu tinha seguido Thur para uma arcada de má reputação tarde da noite. Agora eu estava a beira de bisbilhotar seu arquivo estudantil. Qual era o meu problema? Não – qual era o problema do Thur, que quando se tratava dele, eu não conseguia parar de exercer maus julgamentos.
“Ah, sim,” a secretaria disse solenemente.
“Todos os remédios precisam ser registrados. A enfermaria é aqui por trás, terceira porta à esquerda, do outro lado dos registros estudantis.”
 Ela gesticulou para o corredor atrás dela.
“Se a enfermeira não estiver lá, você pode se sentar na cama portátil dentro do escritório dela. Ela deve voltar a qualquer minuto.”
Eu fabriquei outro sorriso. Eu realmente esperava que fosse ser tão fácil.
Dirigindo-me para o corredor, eu parei para diversas vezes para checar sobre meu ombro. Ninguém veio atrás de mim.
O telefone no escritório principal estava tocando, mas soava como um mundo distante do corredor turvo onde eu estava. Eu estava totalmente sozinha, livre para fazer o que eu desejava.
Eu parei com tudo na terceira porta à esquerda. Eu inspirei e bati, mas estava óbvio pela janela escura que a sala estava vazia. Eu empurrei a porta. Ela se moveu com relutância, abrindo com um rangido para uma sala compacta com azulejo branco desgastado. Eu fiquei de pé na entrada por um momento, quase desejando que a enfermeira aparecesse para que eu não tivesse escolha a não ser registrar minhas pílulas de ferro e ir embora. Um rápido olhar para o outro lado do corredor revelou uma porta com uma janela escrita REGISTROS ESTUDANTIS. Ela também estava escura.
Eu foquei minha atenção em um pensamento importunador no fundo da minha mente. Thur alegava que ele não tinha ido para escola no ano passado. Eu estava bem certa de que ele estava mentindo, mas se ele não estivesse ele ao menos teria um registro estudantil? Ele teria um endereço residencial pelo menos, eu deduzi. E uma ficha médica, e as notas do último semestre. Ainda assim. Uma possível suspensão parecia um preço grande para pagar para espiar a ficha médica de Thur.
Eu inclinei um ombro contra a parede e chequei meu relógio. Vee me dissera para esperar pelo seu sinal. Ela disse que seria óbvio.
Ótimo.
O telefone no escritório principal tocou novamente, e a secretária atendeu.
Mastigando meu lábio, eu roubei uma segunda espiada na porta rotulada REGISTROS ESTUDANTIS. Havia uma boa chance dela estar trancada. Arquivos estudantis provavelmente com considerados de alta segurança. Não importava que tipo de distração Vee criasse, se a porta estivesse trancada, eu não entraria.
Eu mudei a minha mochila para o ombro oposto. Outro minuto passou. Eu disse a mim mesma que talvez devesse ir embora...
Por outro lado, e se Vee estivesse certa? E se Thur tivesse um passado criminal? Como sua parceira de biologia, contato regular com ele podia me colocar em perigo. Eu tinha uma responsabilidade de me proteger... não tinha?
Se a porta estivesse destrancada e os arquivos estivessem em ordem alfabética, eu não teria problema algum em localizar o arquivo de Thur rapidamente. Acrescente outros poucos segundos para folhear seu arquivo por algum sinal de perigo, e eu provavelmente poderia entrar e sair da sala em menos e um minuto. O que era tão breve que poderia parecer que eu não tinha entrado de modo algum.
As coisas tinham ficado estranhamente silenciosas no escritório principal. De repente Vee circulou a esquina. Ela se esgueirou pela parede na minha direção, andando agachada, arrastando suas mãos pela parede, roubando olhares clandestinos por sobre o seu ombro. Era o tipo de andar que espiões elaboravam em filmes antigos.
“Tudo está sob controle,” ela sussurrou.
“O que aconteceu com a secretária?”
“Ela teve que sair do escritório por um minuto.”
“Teve que? Você não a incapacitou, foi?”
“Não dessa vez.”
Graças a Deus pelas pequenas misericórdias.
“Eu alertei uma amiga de bomba do telefone público lá fora,” Vee disse. “A secretária ligou para a polícia, então correu para achar o diretor.”
“Vee!”
Ela bateu em seu pulso.
“A hora está passando. Não queremos estar aqui quando os tiras chegarem.”
Nem me diga.
Vee e eu medimos a porta para os registros estudantis.
“Mexa-se,” Vee disse, batendo-me com seu quadril.
Ela abaixou sua manga sobre seu pulso e o bateu na janela.
Nada aconteceu.
“Isso foi só pra praticar,” ela disse. Ela recuou para dar outro soco e eu agarrei seu braço.
“Pode estar destrancada,” eu virei a maçaneta e a porta se abriu.
“Isso não foi tão divertido,” disse Vee.
Uma questão de opinião.
“Entra você,” Vee instruiu. “Eu vou ficar de vigilância. Se tudo correr bem, nós nos encontraremos em uma hora. Encontre-me no restaurante mexicano na esquina da Drake com a Beech.” Ela andou agachada pelo corredor.
Eu fiquei sozinha de pé parcialmente dentro e parcialmente fora da sala estreita alinhada à parede com armários. Antes que a minha consciência me convencesse, eu entrei e fechei a porta atrás de mim, pressionando as minhas costas contra ela.
Com um fôlego profundo, eu escorreguei a minha mochila e me apressei, arrastando meu dedo pela frente dos armários. Eu achei a gaveta marcada CAR-CUV. Com um puxão, a gaveta se abriu com uma pancada. As etiquetas nos arquivos estavam escritas a mão, e eu me perguntei se Coldwater High era a última escola no país não computadorizada.
Meus olhos passaram pelo nome “Cipriano.”
Eu puxei o arquivo da gaveta entupida com violência. Eu o segurei em minhas mãos por um momento, tentando me convencer que não havia nada de muito errado com o que eu estava prestes a fazer. E daí que havia informações confidenciais dentro? Como parceira de biologia do Thur, eu tinha o direito de saber dessas coisas.
Do lado de fora, vozes encheram o corredor.
Eu remexi no arquivo aberto e imediatamente recuei. Não fazia sentido algum.
As vozes avançaram.
Eu enfiei o arquivo ao acaso dentro da gaveta e dei um empurrão, fazendo-a agitar-se de volta no armário. Enquanto eu me virava, eu congelei. Do outro lado da janela, o diretor estava parado a meio caminho, seu olhar fechando-se sobre mim.
O que quer que ele estivera dizendo para o grupo, que consistia de todos os maiores membros do conselho da escola, dissipou-se.
“Me dêem licença por um instante,” eu o ouvi dizer. O grupo continuou acotovelando-se para frente. Ele não.
Ele abriu a porta.
 “Essa área é fora dos limites para estudantes.”
Eu coloquei uma cara indefesa. “Eu sinto tanto. Estou tentando achar a enfermaria. A secretária disse que era a terceira porta a direita, mas eu acho que contei errado...” Eu joguei minhas mãos para cima.
“Estou perdida.”
Antes que ele pudesse responder, eu puxei com violência o zíper da minha mochila.
“Eu deveria registrá-las. Pílulas de ferro,” eu expliquei. “Eu sou anêmica.”
Ele me estudou por um momento, sua testa enrugando. Eu achei que conseguia vê-lo pesando suas opções: ficar por aqui e lidar comigo, ou lidar com a ameaça de bomba. Ele sacudiu seu queixo porta afora.
“Eu preciso que você saia do prédio imediatamente.”
Ele sustentou a porta aberta e eu me abaixei por debaixo do seu braço, meu sorriso sofrendo um colapso.
***
Uma hora mais tarde eu deslizei numa cabine de canto no restaurante mexicano na esquina do Drake com a Beech. Um cacto de cerâmica e um coiote empalhado estavam na parede acima de mim. Um homem usando um sombrero mais largo do que ele era alto passou vagueando. Dedilhando cordas em seu vidão, ele me fez uma serenata enquanto o hostess colocava cardápios na mesa. Eu franzi a testa para o símbolo no copo da frente. The Borderline. Eu não tinha comido aqui antes, mas ainda assim algo no nome me soava vagamente familiar.
Vee surgiu atrás de mim e caiu no assento oposto. Nosso garçom seguia de perto.
“Quatro chimis15, creme de leite extra, uma porção de nachos, e uma porção de feijões pretos,” Vee disse a ele sem consultar o cardápio.
15
“Um red burrito16,” eu disse.
“Contas separadas?” ele perguntou.
“Eu não vou pagar por ela,” Vee e eu dissemos ao mesmo tempo.
Após o nosso garçom ir embora, eu disse, “Quatro chimis. Estou ansiosa em ouvir a conexão com uma fruta.”
“Nem começa. Eu estou morrendo de fome. Não comi desde o almoço.” Ela pausou. “Se não contar os Hot Tamales, o que eu não conto.”
Vee é voluptuosa, com complexo escandinávio, e de um jeito heterodoxo, incrivelmente sexy. Houvera dias onde a nossa amizade era a única coisa no caminho da minha inveja. Perto da Vee, a única coisa que eu tenho a meu favor são as minhas pernas. E talvez meu metabolismo. Mas definitivamente não o meu cabelo.
“É melhor que ele traga chips logo,” disse Vee.
“Eu vou ficar com urticária se eu não comer algo salgado nos próximos quarenta e cinco segundos. E de qualquer jeito, as primeiras três letras na palavra dieta17 devem te informar o que eu quero que aconteça a ela.”
“Eles fazem salsa com tomate,” eu apontei. “É vermelho. E abacates são frutas. Eu acho.”
Seu rosto se iluminou.
“E vamos pedir daiquiris de morango.”
Vee estava certa. Essa dieta era fácil.
“Já volto,” ela disse, deslizando para fora da cabine. “Aquele período do mês. Depois disso, eu quero o furo.”
Enquanto esperava por ela, eu me encontrei concentrada no assistente de garçom há algumas mesas. Ele estava trabalhando arduamente esfregando um pano sobre o topo de uma mesa. Havia algo estranhamente familiar no jeito com que ele se movia, no jeito que sua camisa caia sobre o arco de suas costas bem definidas. Quase como se ele suspeitasse que estava sendo observado, ele se endireitou e se virou, seus olhos fixos nos meus no exato momento em que eu descobri o que era tão familiar nesse assistente de garçom em particular.

Thur.

Original de: Becca Fitzpatrick


Adaptada por: MILLYS

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